Chuva acumulada em junho foi de 15,8 milímetros, 72% a menos que média histórica, de 56 mm; previsão para este mês não é melhor.
Por FABIO LEITE – O ESTADO DE S. PAULO
Em crise declarada há cinco meses, o Sistema Cantareira registrou em junho novo recorde negativo. Foi o mês mais seco do principal manancial paulista em 84 anos de medição, superando maio deste ano. Dados do comitê anticrise que monitora a estiagem local mostram que a vazão afluente – volume de água que chega aos reservatórios – foi de apenas 6,6 mil litros por segundo, 46% inferior à mínima histórica para este mês, registrada em 2000: 14,3 mil litros por segundo.
A situação é consequência direta do baixo índice pluviométrico na região, que contrariou desejo do governo Geraldo Alckmin (PSDB). Assessores do governador esperavam um desempenho semelhante ao de 2013, quando junho e julho foram os únicos meses em que o volume de chuva ficou acima da média. Mas, na prática, a pluviometria acumulada no mês passado foi de 15,8 milímetros, 72% a menos que a média histórica de 56 milímetros, segundo a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp).
“Junho foi realmente muito seco e a previsão é de que a pluviometria continue muito baixa em julho, ao contrário do ano passado, quando choveu o dobro do esperado. O cenário não é nada animador”, afirma a meteorologista Daniele Lima, da Climatempo. Segundo a empresa, nem a chegada do El Niño, previsto para ocorrer a partir deste mês, deve ajudar o Cantareira. A previsão é de que o fenômeno climático, que provoca fortes chuvas na Região Sul do País e eleva a temperatura na Região Sudeste, atrase a chegada da umidade que desce da Amazônia durante a primavera. Isso vai depender da intensidade do El Niño, que deve se estender até o fim do ano.
Déficit. Com o mês mais seco de sua história, o Cantareira registrou em junho um déficit de 16,5 mil litros por segundo, o que representa uma redução de aproximadamente 43 bilhões de litros do sistema, ou 4,2 pontos porcentuais no nível de armazenamento. O recorde anterior era de maio, com vazão afluente de 7,3 mil litros por segundo. Nesta segunda-feira, 30, o manancial estava com 20,6% da capacidade, segundo a Sabesp, já considerando os 182,5 bilhões do chamado “volume morto” – reserva profunda.
Segundo o comitê anticrise, liderado por técnicos da Agência Nacional de Águas (ANA), do governo federal, e do Departamento de Água e Energia Elétrica (DAEE), do governo paulista, a Sabesp já havia usado até esta segunda 33,3 bilhões de litros do “volume morto”, ou 18,3% da reserva disponível.
No inicio do mês passado, a Sabesp informou ao comitê que no pior cenário de chuvas possível para os próximos meses essa parcela do “volume morto” do Cantareira pode acabar em 27 de outubro, um dia após o segundo turno das eleições a governador de São Paulo. Diante dessa possibilidade, a companhia já solicitou à ANA e ao DAEE autorização para retirar mais 100 bilhões de litros da reserva profunda para evitar o racionamento de água generalizado na Grande São Paulo. O pedido divide os órgãos gestores.
O presidente da ANA, Vicente Andreu, já se manifestou contrário ao pleito da Sabesp, que comprometeria 70% dos cerca de 400 bilhões de litros do “volume morto”. A precaução deve-se ao fato de que a situação do Cantareira está pior do que o previsto no cenário mais pessimista da Sabesp, que considerou uma vazão afluente equivalente a 50% da mínima histórica no período.
A Sabesp afirma que foi obrigada pelo comitê “a apresentar projeções muito mais pessimistas”. Mas reitera que o volume disponível no sistema é suficiente para manter o abastecimento sem rodízio oficial.
Matéria publicada originalmente no jornal O Estado de S.Paulo.