Por Arthur Rodrigues e Giba Bergamim Jr.
O prefeito Fernando Haddad (PT) mudou o perfil da equipe de subprefeitos da cidade, ao trocar nomeações exclusivamente técnicas por indicações políticas.
No total, foram trocados 12 subprefeitos em apenas dois meses -maio e junho. Pelo menos cinco deles são indicações de vereadores, segundo apurou aFolha.
O troca-troca se deu no período de intensa negociação entre prefeitura e vereadores para a aprovação do novo Plano Diretor de São Paulo.
O plano é o conjunto de regras para orientar o crescimento da cidade, tido pela bancada de Haddad como o projeto mais importante desta legislatura.
Nos bastidores, parlamentares, inclusive da base do petista, dizem que as mudanças nas subprefeituras ajudaram a definir a aprovação do plano, no fim de junho.
Ao assumir, Haddad disse que colocaria na chefia das administrações funcionários com perfil estritamente técnico. As indicações só eram aceitas nas chefias de gabinete.
Agora, a gestão admite a troca de perfil, embora argumente que ainda é pré-requisito ter experiência em administração pública e, de preferência, ser funcionário de carreira.
Influência
As subprefeituras têm papel fundamental na zeladoria e na elaboração de políticas públicas para os bairros, especialmente numa cidade grande como São Paulo. A capital tem 32 subprefeituras.
Os vereadores querem ter o controle das subprefeituras para manter influência em seus redutos e, com isso, colher dividendos eleitorais.
O PSD do ex-prefeito Gilberto Kassab teve dois subprefeitos indicados recentemente por vereadores do partido.
Na aprovação do Plano Diretor (placar de 44 a 8), os oito vereadores do PSD votaram a favor do projeto.
São indicações do partido os subprefeitos da Vila Mariana (zona zul) e da Vila Prudente (zona leste). A legenda também tenta emplacar os subprefeitos do Butantã (zona oeste) e Vila Maria (norte).
Na Lapa (zona oeste), uma filiada ao PHS, também da base de Haddad, assumiu interinamente. Brunna Rocha Perina, 29, acumula a função de subprefeita com a de chefe de gabinete.
A vaga de chefe de gabinete foi herdada em maio de seu marido, que deixou o cargo para se lançar candidato a deputado federal.
Além dos 12 subprefeitos trocados recentemente, seis mudanças já haviam sido feitas na gestão Haddad. Na Sé, assumiu em março o deputado estadual Alcides Amazonas (PC do B).
Integrantes do PT também assumiram subprefeituras. É o caso de Nilton de Oliveira (Parelheiros), filiado ao partido e professor da rede pública municipal.
Na gestão Kassab, a maioria das subprefeituras era comanda por coronéis da PM.
RAIO-X das subprefeituras
32
é o número de subprefeituras em São Paulo
12
subprefeitos foram trocados em apenas dois meses (maio e junho deste ano)
5
deles, pelo menos, são indicações de vereadores
R$ 1,27 bi
é a despesa das subprefeituras orçada para este ano
Para que servem as subprefeituras?
Elas têm papel na zeladoria e na elaboração de políticas públicas para os bairros
Ideia de novas nomeações é aliar técnica e 'traquejo', diz secretário
O secretário municipal de Relações Governamentais, Paulo Frateschi (PT), admite a mudança no perfil dos subprefeitos e diz que a ideia é aliar qualidades técnicas com um pouco mais de "traquejo".
O prefeito Fernando Haddad (PT) tem mudado o perfil da equipe de subprefeitos da cidade, ao trocar nomeações exclusivamente técnicas por indicações políticas. No total, foram trocados 12 subprefeitos em apenas dois meses –maio e junho.
"Não há um afrouxamento no que diz respeito a questão técnica", diz. "Agora, é evidente que o ideal é junto com isso buscar um pouquinho mais de expressão política", completa Frateschi.
Após turbulências na Câmara Municipal, a gestão Fernando Haddad busca uma relação mais harmônica com os vereadores, que se queixavam da falta de interlocução com os subprefeitos técnicos, vistos por eles como burocratas.
Frateschi afirma que os vereadores foram ouvidos na composição dos novos titulares das subprefeituras. Ressalta, no entanto, que a população dos bairros também foi importante nas escolhas.
Segundo o secretário, o prefeito continua a exigir que os subprefeitos tenham experiência em administração pública. No entanto, não precisam ser, por exemplo, engenheiros e arquitetos.
Frateschi afirma que o cargo é "político". "Tem que ter paciência para ouvir os problemas do bairro, dos comerciantes. E acho que agora estamos chegando a um jeitão de trabalhar atendendo a comunidade", diz.
Nem todos os subprefeitos, diz Frateschi, deixaram o cargo por questões políticas ou administrativas.
Ainda de acordo com o secretário, alguns pediram para sair e passaram a atuar em outros órgãos municipais. Isso fez com que chefes de gabinete, que são indicações políticas dos vereadores, virassem interinos.
O secretário afirma que ainda podem haver outras mudanças.
Matéria originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo