A ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, afirmou nesta terça-feira (22) que o abastecimento de água pelo sistema Cantareira não está garantido até março de 2015, como havia dito a Sabesp, companhia de água do governo de São Paulo.
A ministra participou de reunião convocada pela ANA (Agência Nacional das Águas) com especialistas de diversas instituições, como USP e Unicamp, para discutir o assunto. Não foram convidados representantes do governo de São Paulo.
Segundo ela, estudos do Ministério da Ciência, Tecnologia e Informação apontam que "não é possível fazer afirmação que vai chover no Cantareira". "É muito prematuro falar isso", disse Izabella.
A Sabesp conta com chuvas que deveriam ocorrer a partir de outubro e com o"volume morto", reserva de água que fica abaixo da captação das represas, para alcançar essa meta, mas o governo federal avalia que a previsão é arriscada.
"O MCT nos informou que, embora o Brasil já esteja vivendo os efeitos do El Niño, não há nenhuma garantia de que o El Niño vai gerar chuvas em São Paulo. A correlação entre as duas coisas é zero", afirmou a ministra.
Na reunião, especialistas defenderam o aumento das tarifas de água para quem consumir muito –seria um complemento ao bônus já concedido pelo governo de São Paulo. "É necessário ser reduzido o consumo ou a vazão", afirmou à imprensa o diretor-presidente da ANA, Vicente Andreu.
A ANA já havia recomendado redução de vazão do sistema Cantareira ao governo de São Paulo. Segundo o diretor-presidente, o assunto continuará sendo discutido nas reuniões do grupo de trabalho que trata do assunto. No caso da adoção da tarifa, porém, ele afirma que não cabe à ANA fazer essa recomendação.
Procurada, a Sabesp afirmou que, graças a medidas implantadas, "garante o abastecimento até março de 2015". Segundo a empresa, as principais medidas foram a transferência de vazões dos sistemas Alto Tietê, Rio Grande e Guarapiranga para atender áreas abastecidas pelo Cantareira, a utilização da reserva técnica ("volume morto") das represas Jaguari/Jacareí e Atibainha, e a criação, em fevereiro, dos bônus para clientes que reduzirem o consumo.
O "volume morto" do Cantareira tem cerca de 400 bilhões de litros de água, dos quais 182,5 bilhões estão sendo bombeados desde 15 de maio.
"É errado dizer que o Cantareira tem apenas 18% da capacidade para atender a população. Se necessário, a outra parte da reserva técnica pode ser acionada. E se as chuvas voltarem à normalidade, o uso da reserva técnica deverá ser suspenso, com retorno ao modelo de captação anterior", diz a nota.
Matéria originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo