Departamento autoriza obra que pode socorrer segundo maior sistema de água da Grande SP; Governo Alckmin diz que abastecimento está garantido até março, mas analistas e governo federal contestam.
Por Heloisa Brenha
Cinco meses após começar a atender usuários do Cantareira, o nível do sistema Alto Tietê, o segundo maior abastecedor da Grande São Paulo, caiu pela metade, chegando a 21,2% nesta terça (29).
Em fevereiro, a capacidade do Alto Tietê era o dobro da atual, em torno de 42%.
A redução drástica de nível revelou o fundo de represas e resumiu cursos d'água a filetes. No ritmo atual, o sistema pode esvaziar por completo em menos de seis meses, caso não chova.
Desde 10 de março, o Alto Tietê passou a abastecer bairros da zona leste paulistana originalmente atendidos pelo Cantareira, como Penha, Ermelino Matarazzo, Cangaíba, Carrão e Vila Formosa.
Na mesma época, o sistema Guarapiranga, o terceiro maior da região metropolitana, também começou a socorrer o Cantareira.
O objetivo era reduzir a pressão sobre o maior sistema da Grande São Paulo, que à época tinha apenas 16% de capacidade e ainda não usava o "volume morto" –reserva de água que fica abaixo das comportas das represas e, por isso, precisa ser bombeada.
O nível do sistema é hoje semelhante ao do início de março –era 15,7% ontem, mesmo após ter recebido o aporte extra do "volume morto".
Fundo das reservas
O governo de São Paulo vem tentando evitar a adoção de um racionamento neste ano, em que Geraldo Alckmin (PSDB) disputa a reeleição.
Diz que o abastecimento está garantido até março, previsão contestada por especialistas e pelo governo federal, com base no esvaziamento acelerado das represas.
Na semana passada, a Sabesp pediu aos órgãos reguladores autorização para retirar 25 bilhões de litros do "volume morto" do Alto Tietê e outros 100 bilhões do Cantareira. A empresa diz que os volumes não são necessários no momento e que os solicitou por prevenção.
No caso do Alto Tietê, como o sistema é estadual, a Sabsep depende apenas da autorização do DAEE (Departamento de Águas e Energia Elétrica), que fica sob o guarda-chuva da Secretaria de Recursos Hídricos do Estado.
Em nota, o DAEE disse que autorizou a Sabesp a fazer uma outra obra de captação na represa Biritiba-Mirim e que, "caso haja necessidade, [a obra] poderá ser usada para captação da reserva".
Matéria originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo