Estiagem no período é a maior em 11 anos. Só março teve chuvas acima da média; governo espera que seca tenha fim em setembro, para poder recompor represas. Apesar de falta de chuvas, especialistas dizem que obras em infraestrutura teriam evitado a situação.
Por Fabrício Lobel
O sistema Cantareira recebeu nos primeiros sete meses de 2014 apenas 58% do volume de chuva esperado para o período, segundo dados coletados pela Sabesp.
Esse é o pior índice desde 2003, ano em que a empresa começou a registrar os dados.
Foram 533 mm de chuva de janeiro a julho, ante média de 917 mm no mesmo período entre os anos de 2003 e 2013, a série histórica divulgada pela companhia.
Segundo a empresa, a falta de chuva e de entrada de água pelos rios que alimentam o sistema são as principais explicações para a pior crise hídrica do manancial do Cantareira em 80 anos.
Especialistas, no entanto, dizem que medidas estruturais poderiam ter reduzido a dependência das chuvas.
Entre elas, citam obras de interligação dos diferentes sistemas que abastecem a Grande São Paulo, o que poderia aumentar a capacidade de distribuição da água por diferentes regiões.
E também a construção do sistema São Lourenço, que trará água do interior do Estado e já deveria estar pronto. A nova previsão de conclusão das obras, em fase de licitação, é final de 2017.
A crise de abastecimento vem desde o final de 2013, quando as chuvas que eram esperadas no verão não chegaram a São Paulo. São justamente essas as chuvas que têm o maior impacto sobre o abastecimento do manancial. E esse período tem maior influência na atual crise.
Em janeiro, quando a média é 308 mm de chuva, foram registrados apenas 87 mm.
O único mês em que choveu acima da média no Cantareira foi março, com 23% acima do esperado.
O volume de chuva do fim do verão e do início do outono, no entanto, não foi capaz de compensar meses de chuva fraca, de evaporação das águas das represas e de nutrir o solo que ficou seco, o que dificulta o armazenamento de água.
Com o inverno, outros fenômenos climatológicos aumentaram a estiagem.
Segundo meteorologistas, o rápido aquecimento das águas do Pacífico fez com que o fenômeno do El Niño barrasse a entrada de chuvas pelo Sul do Brasil durante o começo do inverno.
O fenômeno perdeu força, mas, como é o esperado para a estação, outros bloqueios se formaram no Sul do país.
Com isso, os meses de junho e julho, períodos mais frios e secos do ano, tiveram índices de chuva ainda mais baixos do que o normal.
"Temos que entender que esses meses já são considerados secos. Seria muito otimismo esperar que a eventual chuva do inverno fosse compensar um verão de estiagem e encher os reservatórios", disse Samantha Almeida, meteorologista da USP.
Atualmente, segundo a Somar Meteorologia, uma massa de ar quente e seca estacionada sobre o Rio Grande do Sul deve alongar ainda mais a estiagem no Sudeste.
Um regime de chuvas grande o suficiente para abastecer os reservatórios do Estado só deve surgir a partir do mês de setembro.
Matéria originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo