Somente 10% dos equipamentos instalados nas ruas para combate a incêndios funcionam de maneira adequada na capital paulista.
Por Adriana Ferraz
Só 10% dos hidrantes instalados para combate a fogo funcionam de maneira adequada em São Paulo e 2 em cada 3 estão inoperantes ou sumiram, conforme amostragem encomendada pelo Ministério Público Estadual aos bombeiros. De 948 hidrantes vistoriados – 15% de um universo estimado pela corporação em 6.375 -, 95 têm condições plenas de uso, de acordo com o laudo final. O MPE instaurou inquérito para averiguar o risco à população em plena seca histórica, que amplia o risco de incêndios.
Da lista total de equipamentos checados, 394 (42%) sequer foram encontrados. Para o promotor Marcus Vinicius Monteiro dos Santos, a capital está em situação delicada no que diz respeito à qualidade do pronto-atendimento de incêndio. “Há um número reduzido de equipamentos em condições de uso. O laudo ainda revelou que há 243 (25,5%) inoperantes e 216 (22,5%) funcionando com avarias”, diz.
Segundo o promotor, os hidrantes que não foram encontrados “tiveram o acesso bloqueado, tapado, sem que ninguém percebesse”. Marcus Vinicius considera a situação preocupante e espera firmar um acordo com a Prefeitura ainda nesta semana para a solução do problema. Por enquanto, os bombeiros terão de continuar apelando a trens de socorro, nome dado aos caminhões-pipa que levam água até o local da ocorrência, para pode conter focos de incêndio.
Gravidade
Em depoimento prestado na Promotoria em dia 16 de junho, o tenente-coronel Eduardo Holms reconheceu que a gravidade da situação obriga as equipes a deixarem as bases juntamente com os caminhões. “Eles já saem com o ‘plano B’ em prática. E em uma cidade como São Paulo, onde é muito difícil circular com carros. Agora, imagine com caminhões”, alerta o promotor.
Apesar de reconhecer o problema, os bombeiros não se consideram responsáveis por ele. O mesmo ocorre com a Companhia de Saneamento Básico do Estado (Sabesp), que já foi ouvida no inquérito. Ao Ministério Público, a empresa declarou que faz os reparos necessários nos equipamentos, mas de maneira “voluntária”. De acordo com o que afirmou Marcelo Xavier Veiga, superintendente de planejamento e desenvolvimento da Diretoria Metropolitana, o contrato de concessão firmado com a Prefeitura não prevê o serviço.
Segundo Veiga, a capital tem 7.681 hidrantes – e não 6.375, como informou o Corpo de Bombeiros. “A diferença nos números já indica um problema. Os cadastros são contraditórios e revelam ainda que não existe uma checagem periódica da situação dos equipamentos”, diz o promotor.
A falta de manutenção ocorre em toda a cidade. No mapeamento dos bombeiros, há hidrantes com problemas na Rua Teodoro Sampaio, em Pinheiros, na Rua Santa Ifigênia, em Santa Cecília, e até na Praça do Patriarca, na frente da sede da Prefeitura, no centro.
Acordo
Está marcada para hoje uma reunião entre representantes do Ministério Público e da Prefeitura para tratar do assunto. O secretário municipal de governo, Chico Macena, é um dos aguardados. A intenção do promotor é firmar um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) entre os envolvidos para reestruturar a rede existente.
Nesta segunda-feira, 4, Macena ressaltou que a manutenção da rede de hidrantes é uma responsabilidade da Sabesp. “É o que vamos dizer ao promotor. A Prefeitura pode ajudar, sim, mas na liberação de obras a serem executadas pela Sabesp. Se a empresa precisar quebrar a calçada para fazer a manutenção, por exemplo, nós vamos dar o alvará”, explicou.
De acordo com o secretário, o contrato assinado entre a Prefeitura e a Sabesp não prevê a manutenção de hidrantes porque já existe legislação a respeito. “A normativa 34, de 2011, do Corpo de Bombeiros, atribui a responsabilidade sobre o tema à concessionária”, diz Macena. A Sabesp não se manifestou sobre o assunto.
Matéria originalmente publicada no jornal O Estado de São Paulo