Um abastecimento de água regular e de qualidade ainda é uma realidade distante para 77 milhões de brasileiros, uma população equivalente a todos os habitantes da Alemanha.
O alerta é da Organização das Nações Unidas (ONU), que ainda aponta que 60% da população do País – 114 milhões de pessoas – não dispõe de rede de esgoto apropriada. Os dados ainda revelam que oito milhões de brasileiros precisam fazer suas necessidades ao ar livre todos os dias.
O informe que traz esses dados foi preparado pela relatora da ONU, Catarina de Albuquerque, que não hesita em alertar que o crescimento econômico dos últimos anos ainda não se traduziu em uma melhora em termos de acesso à água no País.
O raio-X da ONU reflete uma crise que vive o País no que se refere ao acesso à água e ao saneamento. "Milhões de pessoas continuam a viver em ambientes insalubres, sem acesso à água e saneamento", indicou o informe, apontando que o maior problema estaria nas favelas e nas zonas rurais.
Catarina deixa claro que o crescimento da economia brasileira nos últimos anos não foi traduzida em ganhos nesse setor. "Nos últimos anos, o Brasil experimentou um desenvolvimento significativo, com crescimento econômico e uma melhoria dos indicadores sociais. Mas esses ganhos ainda não foram refletidos nos serviços de água e saneamento", alertou.
Segundo a ONU, o baixo investimento em saneamento no Brasil está tendo "custos elevados para a saúde pública". Em apenas um ano, 400 mil pessoas teriam sido internadas no País por diarreia, com um custo para o Serviço Único de Saúde (SUS) de mais de R$ 140 milhões.
Prevenção – O informe aponta que, para cada dólar que fosse investido em saneamento no Brasil, o retorno seria de US$ 5 em custos evitados na área de saúde e ganhos de produtividade.
As diferenças regionais são profundas. No Norte, 31% da população ainda vive "sem um fornecimento adequado de água". No Nordeste, essa taxa chega a 21,5%.
O abastecimento tem uma relação direta com a renda dos habitantes de uma região. "Em locais onde a população ganha um quarto de um salário mínimo, o déficit de água é de 35%", indicou a ONU. Em locais onde a renda é de cinco salários mínimos, 95% da população tem acesso adequada ao abastecimento de água. "O Brasil tem ainda um longo caminho para garantir acesso universal a esse direito", afirmou a ONU.
Para contornar o problema, a entidade sugere um teto para o preço da água e alerta que os padrões internacionais apontam que o abastecimento não pode representar mais que 5% do orçamento de uma família. Em sua visita ao Brasil, porém, a técnica relatou que chegou a encontrar famílias que chegavam a gastar 25% de sua renda com os serviços de água e saneamento.
"A relatora considera que é urgente uma determinação vinculante, no nível federal, de um porcentual máximo do orçamento de uma família para pagar pelo abastecimento de água", indicou o informe das Nações Unidas.
Matéria originalmente publicada no jornal Diário do Comércio