A nova ciclovia do centro de São Paulo passa por pontos turísticos como a Estação da Luz e a Sala São Paulo, mas se engana quem pensar que ela é uma via de passeio. Carga pesada é o forte em seus cerca de 6 quilômetros.
Em uma pedalada de "reconhecimento" feita pela reportagem na sexta-feira (8), os ciclistas que entregam de pãozinho a frango na região da Luz e de Santa Cecília eram maioria.
A via exclusiva para bikes da região central começou a ser implantada no começo de julho. Na última segunda (4), o prefeito Fernando Haddad anunciou que vai criar 10 km de ciclovias por semana até alcançar o total de 400 km.
Neste sábado (9), a área ganhou mais 2,4 km, que ligam a região da avenida Pacaembu à Sala São Paulo.
Enquanto o Conselho de Segurança de Santa Cecília protesta contra a novidade, os ciclistas de carga estão se sentindo mais seguros.
"Estão respeitando mais, mas falta nas principais", diz Rodrigo Freitas, 27, que faz entregas de bike na região desde 2010. Ele se refere às avenidas Ipiranga e São João.
Atualmente, Freitas, que já sofreu quatro acidentes no ofício, leva frango do Mercadão para diversos restaurantes da região, como o Riconcito Peruano, na rua Aurora.
Do percurso percorrido em cerca de 30 viagens diárias, Rodrigo diz que "uns 40%" são feitos pela ciclovia.
Embora a sensação seja de que faltam mais trechos, ao pedalar por onde a via já existe a sensação é de segurança semelhante à das ciclovias de Berlim e Estocolmo.
As pistas têm duas mãos separadas e largura mais que suficiente para trafegar sem esbarrar em quem vem no outro sentido. Mas as faixas que ficam próximas à calçada são mais difíceis, porque uma parte da largura fica em sarjetas inclinadas e irregulares.
Há problemas na sinalização. Ao sair da avenida Duque de Caxias, fui direcionada para um pedaço de ciclovia na contramão da São João, que leva para o largo do Arouche.
Fora o trecho que passa pela praça Júlio Prestes e leva para dentro da cracolândia, aquela foi a única parte do percurso que deu medo.
O semáforo do ciclista, por estar bem ao lado da faixa que sinaliza onde a bicicleta deve parar, acaba ficando invisível.
Enquanto os carros passavam raspando a frente da bike, notando a faixa só quando estavam muito perto, eu me perguntava: como faço pra saber quando atravessar?
Depois de dois ciclos de faróis, percebi um intervalo entre o verde para a rua General Osório e o verde para a São João. Um microintervalo de cinco segundos. Mal dá tempo de cruzar antes de o semáforo abrir de novo.
A CET afirma que está fazendo ajustes na sinalização.
Matéria originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo