No interior, municípios implantam 0800 para denúncias de desperdício e multa de até R$ 5.000 aos gastadores; Outros locais adotaram estímulos à redução do consumo, como liberar da conta de água quem bate meta de economia
Com o abastecimento em crise, municípios paulistas têm adotado não só racionamento de água mas também medidas de economia que vão de multa para quem desperdiça até rifa de carro e TV para quem poupa água.
Uma das primeiras cidades do Estado a decretar rodízio, Valinhos (a 85 km da capital) também implantou um 0800 para os moradores fazerem denúncias de desperdício.
A linha instalou um clima de delação na cidade: 120 pessoas já foram cobradas em R$ 336 cada uma depois de serem denunciadas.
"Meu filho foi denunciado, mas não estava desperdiçando", diz a vendedora de cosméticos Marisa Amador Lima, 52. "O fiscal foi até a casa dele, mas não o multou."
As taxas contra o desperdício foram adotadas por várias cidades do interior paulista, como Cordeirópolis e Artur Nogueira, ambas na região de Campinas.
Nesta, o racionamento ainda não foi implantado, mas a multa varia de R$ 500 a R$ 5.000 para moradores e comerciantes flagrados gastando água em excesso.
Em Itu (a 101 km da capital paulista), a crise no abastecimento levou a medidas ainda mais extremas. Além de o abastecimento ter sido limitado a 10 horas em cada dois dias, o município resolveu vetar novos empreendimentos imobiliários para impedir o aumento do consumo.
Ação positiva
Outras cidades, porém, resolveram premiar moradores que reduzissem o consumo de água voluntariamente ao invés de penalizar os gastadores. No geral, elas têm fontes de água alternativas e não precisaram decretar rodízio.
É o caso de São Caetano do Sul (Grande São Paulo). Como Guarulhos, o município é atendido por um serviço municipal, mas compra água da Sabesp para complementar o abastecimento.
Desde março, porém, a estatal reduziu o volume de água vendido às duas cidades para aliviar o sistema Cantareira –principal abastecedor da região metropolitana, em crise desde o início do ano.
Com 150 mil habitantes, São Caetano contornou a menor disponibilidade hídrica com uma campanha de redução do consumo, que inclui até rifa de carros e aparelhos de televisão a quem economiza 10% ou mais em relação a seu consumo médio.
O município de José Bonifácio (a 481 km da capital paulista) é abastecido por poços artesianos e não foi tão afetado pela crise hídrica, mas resolveu se precaver.
Ali, quem consome menos de 10 mil litros por mês não paga a conta de água.
Matéria originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo