Estiagem gera crise entre SP e órgão nacional de energia

Por Andréia Sadi e Dimmi Amora

A estiagem que castiga diversos Estados do país gerou um cabo de guerra entre o governo de São Paulo e o órgão que regula o sistema de eletricidade brasileiro.

A Cesp (Companhia Energética de São Paulo), ligada à gestão Geraldo Alckmin (PSDB), tem liberado na hidrelétrica de Jaguari, desde quarta-feira (6), apenas um terço do volume de água determinado pelo ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico), que controla a operação das usinas no Brasil.

Essa usina fica entre Jacareí e São José dos Campos, no interior paulista. A água que sai de lá vai para o rio Paraíba do Sul, que garante o abastecimento de cidades do Rio de Janeiro, de Minas Gerais e do interior de São Paulo.

Ela também é usada para garantir o funcionamento de outras usinas que produzem energia a partir da água do rio que corta os três Estados.

Para o órgão que controla o sistema de energia brasileiro, a decisão da empresa paulista vai causar um "colapso" no abastecimento de água das cidades que ficam na bacia do rio Paraíba do Sul.

Segundo dados oficiais, 15 milhões de pessoas recebem água a partir desse rio, sendo 10 milhões no Rio.

O ONS é um órgão formado por representantes do setor público e privado -mas, na prática, adota políticas definidas pelo Ministério de Minas e Energia do governo Dilma Rousseff (PT).

Carta

O diretor-geral do ONS, Hermes Chipp, enviou carta para a direção da Cesp condenando a decisão da empresa.

De acordo com o documento obtido pela Folha, além de prejudicar o fornecimento de água para as cidades no entorno do rio, três usinas hidrelétricas instaladas na região terão que reduzir a produção por causa da decisão da empresa paulista.

No início desta semana, o ONS pediu para que a companhia de energia paulista triplicasse o volume de água liberado da usina de Jaguari.

A Cesp negou o pedido, alegando que o DAEE (departamento de água e energia de São Paulo), também ligado à administração Alckmin, recomendou manter a liberação de um volume mínimo de água por causa da estiagem que tem prejudicado o abastecimento no Estado.

A crise de falta de água tem sido motivo de desgaste do governo paulista, especialmente devido à seca histórica do sistema Cantareira, que abastece 8,8 milhões de pessoas na região metropolitana de São Paulo. Mas a gestão Alckmin nega a necessidade de adotar racionamento.

Esse reservatório na região do Jaguari, contudo, não atende a Grande São Paulo. Antes da usina, ele serve para suprir a cidade de Santa Isabel, de 50 mil habitantes.

O governo paulista pretende interligar o reservatório do Jaguari ao sistema Cantareira. No início do ano, o governador Geraldo Alckmin apresentou o projeto para o governo federal. A proposta gerou atritos com o governo do Rio, que temia a retirada de água do rio que abastece municípios fluminenses.

Ameaça

Na quarta-feira (6), o ONS ameaçou a Cesp. Segundo documento obtido pela reportagem, ele disse que a decisão da Cesp geraria um colapso do abastecimento de água de diversas cidades, em especial na capital fluminense.

O órgão afirma ainda que tomará "providências cabíveis" para reverter a decisão.

"Estamos avaliando as medidas administrativas e legais cabíveis em razão do descumprimento da programação e operação comandadas por este ONS", escreveu Chipp em carta enviada na quarta. 

Matéria originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo

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