Por André Monteiro
A prioridade às bicicletas na cidade de São Paulo, nova bandeira da gestão Fernando Haddad (PT), está pesando no bolso dos motoristas: as multas aplicadas pela CET por desrespeito aos ciclistas quase triplicaram no primeiro semestre em relação ao mesmo período de 2013.
Elas passaram de 3.565 para 10.263 –57 a cada dia. E a tendência reconhecida pela prefeitura é que as punições aumentem devido ao projeto para construir 400 km de ciclovias até 2015 e a uma novidade da fiscalização.
A gestão petista passará a usar radares para flagrar carros e motos que trafegam nas pistas destinadas às bicicletas –infração gravíssima, com multa de R$ 574,62.
Hoje as multas por desrespeito a ciclistas são aplicadas só por marronzinhos.
Desde 2012, sob Gilberto Kassab (PSD), a CET adaptou três artigos do código de trânsito para punir motoristas que se aproximam demais das bicicletas, as ultrapassam de forma perigosa e sem reduzir a velocidade ou que as fecham antes de conversões.
Enquanto essas multas cresceram 188% este ano, os demais tipos de infração registrados na cidade subiram apenas 4%. E as punições de motoristas por desrespeito aos pedestres caíram 10%.
A gestão Haddad atribui a queda à maior consciência de motoristas, por exemplo, sobre a prioridade de quem está a pé na faixa de travessia. É criticada, porém, por técnicos que consideram ter havido esvaziamento do programa de proteção a pedestres, vitrine da gestão Kassab.
"Trabalhamos esses anos na proteção ao pedestre. Agora é a vez de reforçar o segundo agente mais vulnerável: o ciclista", diz Tadeu Duarte, diretor de planejamento da CET.
Sob Pressão
A arrecadação com multas de trânsito no primeiro semestre foi de R$ 396,2 milhões, alta 0,5% ante 2013.
O programa de fiscalização por desrespeito aos ciclistas foi criado há dois anos por pressão de ativistas depois da morte de ciclistas nas avenidas Paulista e Pirajussara.
O aumento nas multas ocorreu antes mesmo de a gestão Haddad intensificar seu plano de 400 km de ciclovias, em julho deste ano.
A implantação das pistas foi motivo de polêmica com moradores das regiões atingidas, motoristas e comerciantes, que alegam conflitos na circulação e problemas de segurança na forma como as pistas são implantadas.
Com a maior circulação de bicicletas, Duarte avalia que as multas tendem a subir.
Em relação à disparada até junho, segundo ele, os agentes de trânsito ficaram mais "atentos" a essas infrações pelo fato de essa ser uma nova prioridade da companhia.
A CET diz que pretende ainda este ano adaptar radares para que possam multar carros que invadem ciclovias.
Esses aparelhos estão sendo instalados com várias funções –podem flagrar também, ao mesmo tempo, infrações como excesso de velocidade, desrespeito ao rodízio e invasão à faixa de ônibus.
A implantação começou em abril e deve durar um ano.
O número de radares vai crescer 40% e chegar a 843. Até agora, 132 aparelhos já estão em funcionamento –embora ainda não estejam aptos para as pistas de bicicletas.
Se trafegar pelas ciclovias rende multa de R$ 574,62, estacionar sobre ciclovias é infração grave, punida com multa de R$ 127,69.
Matéria originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo