Estatal refaz cálculos e reduz proposta de uso da reserva profunda; retirada será restrita às Represas Jaguari-Jacareí
Por Fabio Leite
Após refazer cálculos sobre os níveis das represas, a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) anunciou nesta terça-feira, 19, que pretende retirar mais 106 bilhões de litros do volume morto do Sistema Cantareira. O principal manancial paulista atravessa a pior estiagem de sua história e, desde julho, opera exclusivamente com água da primeira cota da reserva profunda. Nesta terça-feira, 19, o sistema armazenava 124,7 bilhões de litros, o equivalente a 12,7% da capacidade.
Agora, segundo a concessionária, toda a segunda cota do volume morto será retirada das Represas Jaguari-Jacareí, na região de Bragança Paulista, que representam cerca de 80% da capacidade do Cantareira. No caso da primeira cota, de 182,5 bilhões de litros, a reserva foi dividida entre Jaguari-Jacareí (104,3 bilhões) e Atibainha (78,2 bilhões), localizada em Nazaré Paulista.
Em julho, a Sabesp chegou a apresentar ao Departamento de Águas e Energia Elétrica de São Paulo (DAEE), gestor estadual do Cantareira, proposta para retirar 116 bilhões de litros da reserva, distribuídos entre o Jaguari-Jacareí e o Atibainha, conforme o Estado revelou. Com o novo plano, as duas maiores represas do sistema, consideradas o “coração do Cantareira”, podem ficar com 3% da capacidade, considerando os volumes útil e morto, caso o estoque seja usado integralmente.
Em conferência com investidores e analistas do mercado financeiro, a Sabesp anunciou que os 106 bilhões de litros já haviam sido autorizados pelo DAEE e pela Agência Nacional de Águas (ANA), gestora federal do sistema. Depois, contudo, ponderou que o pedido “está em análise” pelos dois órgãos reguladores e recebeu aval apenas para a realização das obras necessárias para poder captar água do fundo das represas.
Na semana passada, a Sabesp contratou por R$ 6,4 milhões uma empresa para fazer limpeza e manutenção do canal subaquático nos reservatórios e está concluindo a compra de 19 bombas flutuantes por R$ 6,9 milhões para retirar mais água do volume morto. Ao todo, devem ser usados 286,5 bilhões de litros da reserva profunda. Segundo a Sabesp, o volume represado abaixo do nível das comportas é de 510 bilhões de litros.
Média histórica
Conforme cálculos feitos pela própria Sabesp, a primeira cota do volume morto pode se esgotar em outubro, caso a quantidade de água que chega aos reservatórios continuar muito abaixo da média histórica – neste mês, por exemplo, ficou 70,8% inferior. Questionada, a empresa não disse a partir de quando pretende usar a segunda cota do volume morto nem quanto ele pode durar.
Segundo a Sabesp, o abastecimento de água sem a adoção de rodízio oficial está garantido até março de 2015. Aos investidores, a companhia destacou que, desde o início do ano, quando a crise foi anunciada, já reduziu em 10 mil litros por segundo o volume de água retirado do Cantareira. Dados divulgados nesta terça mostram que 46% dessa redução é resultado do remanejamento de água de outros sistemas, como Alto Tietê e Guarapiranga, para regiões antes atendidas pelo Cantareira. De acordo com a companhia, dos 8,8 milhões de pessoas que eram atendidas pelo manancial em crise, hoje 6,5 milhões estão recebendo água de seu volume morto. Outras 500 mil devem deixar a área de abrangência do Cantareira até o fim do ano.
Matéria originalmente publicada no jornal O Estado de S. Paulo