O governador Geraldo Alckmin pôs nas mãos de São Pedro a sorte do abastecimento da Grande São Paulo no início do próximo ano. Segundo ele, mesmo com o uso do volume morto do Sistema Cantareira e com o socorro dos sistemas interligados, a região metropolitana só tem água para quatro meses.
"Chegaremos até o final do ano (com água), isso imaginando que não chova, mas é evidente que tem chuva", afirmou Alckmin, durante vistoria das obras de captação do volume morto na Represa de Atibainha.
Em abril, quando anunciou a utilização do volume morto do Cantareira, o governador apostava que teria água suficiente para chegar até março de 2015. Na segunda-feira, em entrevista no Estadão, Alckmin já havia reduzido o prazo.
"Estamos preparados para chegar (com água) até o começo do ano que vem." Ontem, enquanto observava as bombas sugarem 20 metros cúbicos por segundo da chamada reserva estratégica do Cantareira na represa de Nazaré Paulista, o governador reclamava de um mês de agosto muito seco.
"Foi um mês duro", disse, sob o sol escaldante e um céu sem traço de nuvens. Em suas contas, Alckmin se apega ao fato de ainda ter disponível a segunda fase do volume morto, com mais de 200 bilhões de litros.
A aposta do governador, candidato à reeleição em outubro, é que as chuvas comecem a voltar a partir de setembro. O secretário de Recursos Hídricos, Mauro Arce, que acompanhava Alckmin, disse que são esperadas algumas chuvas em setembro, embora as previsões indiquem um mês mais seco do que a média.
"Mês de setembro que não chove nada é muito raro", disse. Arce admitiu que a temporada de chuvas mais frequentes deve começar só em novembro, com o ápice em fevereiro de 2015. "Esperamos que chova muito nesse mês", afirmou.
Paraíba do Sul
O governador voltou a defender o projeto do seu governo de fazer a interligação do Sistema Cantareira à bacia do Rio Paraíba do Sul, combatido pelo governo do Rio de Janeiro.
Alckmin disse que a integração de sistemas é feita no mundo inteiro. "As cinco represas do Cantareira têm 980 milhões de metros cúbicos de capacidade de reserva. Só a do Jaguari, que forma o Rio Paraíba, tem 1,1 bilhão. Se você interliga, dobra a capacidade de reservação e todos ganham", disse o tucano.
Sobre a previsão da Agência Nacional de Águas (ANA) de que pode faltar água em São Paulo, Alckmin disse que o governo investe na captação de 6,2 m3/s no Rio São Lourenço, no Vale do Ribeira, obra prevista para terminar em 2017. Falou também sobre a construção de duas represas – em Pedreira e Amparo – para aumentar a reserva de água nas Bacias do Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ), obras em licitação. "Nossa proposta é aumentar a segurança hídrica na Região Metropolitana de São Paulo e na e região de Campinas", finalizou.
Ilha Solteira
O governo de São Paulo também decidiu paralisar a geração de energia na usina hidrelétrica de Ilha Solteira, a maior do Estado e a terceira do País. Segundo o secretário estadual de Energia, Marco Antônio Miroz, a Companhia Energética de São Paulo (Cesp) vai acatar a decisão da Justiça Federal que determinou a suspensão na operação de geração de energia na usina – para que não seja reduzido ainda mais o armazenamento de água. A paralisação começaria ontem.
Em liminar concedida a associações de criadores de peixes da região, o juiz federal Rafael Andrade de Margalho, da 1ª Vara Federal de Jales (SP), determina que a Cesp e o Operador Nacional do Sistema (ONS) deixem de gerar energia abaixo da quota mínima e não reduzam ainda mais o nível do reservatório da usina.
Segundo entidades de criadores de peixes, a hidrelétrica não cumpriu a legislação de proteção dos recursos naturais e uso das águas e, por isso, está em uma situação crítica por causa da estiagem.
Matéria originalmente publicada no jornal Diário do Comércio