Jaguari-Jacareí já perderam 72,3% do volume morto; na quarta-feira, metade dos 182,5 bilhões de litros da reserva terá sido captada.
Por FABIO LEITE E NILTON FUKUDA – O ESTADO DE S. PAULO
Quase três meses após o início do bombeamento do volume morto, um grande trecho das Represas Jaguari-Jacareí, que representam 82% da capacidade do Sistema Cantareira, virou um córrego. É por um estreito canal que cruza o solo rachado dos reservatórios, entre as cidades de Bragança Paulista e Joanópolis, no interior paulista, que a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) tem sugado a água que resta no manancial.
Na quarta-feira (27), metade dos 182,5 bilhões de litros da primeira cota da reserva profunda já terá deixado o sistema para abastecer cerca de 12 milhões de pessoas na Grande São Paulo e na região de Campinas. Só das duas maiores represas do Cantareira, a Sabesp já tinha retirado até esta segunda 72,3% do volume morto.
Segundo cálculos do engenheiro Antonio Carlos Zuffo, diretor do Departamento de Recursos Hídricos da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o uso da reserva profunda deixou o volume útil – água represada acima do nível das comportas – desses reservatórios negativo em 9%.
Com o esvaziamento das maiores represas do sistema e o afunilamento do canal, a Sabesp diminui desde o dia 15 deste mês para cerca de 5 mil litros por segundo a vazão de água retirada de Jaguari-Jacareí, cerca de um quarto dos 19,3 mil litros retirados por segundo do Cantareira para a Grande São Paulo. A diminuição foi compensada com o início do bombeamento da reserva profunda da Represa Atibainha, em Nazaré Paulista.
Até esta segunda-feira, segundo o boletim diário do comitê anticrise que monitora o Cantareira, restavam nas cinco represas que formam o sistema 115,9 bilhões de litros, que representam 11,9% da capacidade do manancial, conforme medição feita pela Sabesp. Embora as obras tenham sido inauguradas no dia 15 de maio pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB), ao custo de R$ 80 milhões, o bombeamento do volume morto teve início no dia 4 de junho.
No limite. "Os cálculos mostram que essa reserva deve acabar entre os dias 11 e 17 de novembro. A partir daí, será preciso captar água da segunda parcela do volume morto", afirma Zuffo. A estimativa considera a permanência do baixo volume de água que entra no manancial observado nos últimos meses.
Conforme o Estado informou na semana passada, a Sabesp já pediu aos órgãos gestores do Cantareira autorização para retirar mais 106 bilhões de litros do volume morto. Segundo a estatal, a captação só será feita caso seja necessário e ficará restrita às represas Jaguari-Jacareí, que podem ficar com menos de 3% de todo o volume, incluindo o útil e o morto. A Sabesp gastou cerca de R$ 13,3 milhões para comprar mais 19 bombas para o volume morto.
Negócios. O cenário desanima quem trabalha na região e tinha a represa como um grande atrativo. "Para todos que ligam a gente logo avisa que aquela represa do site não existe mais porque estamos na área do Cantareira", afirma Sérgio José Bacci, gerente de uma pousada em Joanópolis. "Ainda não estamos sentindo tanto porque estamos na baixa temporada, mas muita gente já foi prejudicada."
Matéria publicada originalmente no jornal O Estado de S.Paulo.