Nas duas primeiras décadas, rede ganhou 41 estações – 20 anos depois, foram 24 paradas; governo diz que ritmo de obras hoje é 'histórico'.
Por CAIO DO VALLE, EDISON VEIGA – O ESTADO DE S.PAULO
O Metrô de São Paulo completa 40 anos de sua primeira viagem comercial. Grande promessa para melhorar a mobilidade na capital paulista, o sistema tem crescido em ritmo mais lento do que nas origens. Se em suas primeiras duas décadas de operação 43,4 km de linhas foram entregues à população – a construção, porém, se iniciou em 1968 -, nos últimos 20 anos a quantidade de ramais inaugurados caiu para 32,1 km, patamar 26% menor.
Nos primeiros 26 anos de obras, em média 1,66 km de ramais foi aberto a cada ano. Nas últimas duas décadas, o nível anual ficou 60 metros mais baixo. Até 1994, o número de estações inauguradas chegou a 41, um índice de 1,5 estação por ano, na média. Daquele ano até 2014, outras 24 foram abertas – a taxa cai para 1,2 estação por ano. A estatística desconsidera os 2,9 km do trecho de duas estações de monotrilho parcialmente aberto em agosto na Linha 15-Prata, por se tratar de um tipo diferente de modal, com metade da capacidade do metrô convencional – 2 mil passageiros.
A gestão Geraldo Alckmin (PSDB) destaca que nunca se investiu tanto na construção de linhas – são seis ramais, incluindo três de monotrilho. Em nota, o Metrô informa que "o ritmo de expansão da rede metroviária, hoje, é inédito na história e não encontra paralelo na América Latina". Segundo a empresa, "no total, com essas obras em execução e as que devem ser iniciadas em breve, são mais de 100 km de vias metroviárias em construção".
Três das atuais cinco linhas da rede foram abertas durante as duas primeiras décadas da operação. São elas a 1-Azul (antiga Norte-Sul, a primeira), a 3-Vermelha (aberta em 1979 como Leste-Oeste) e a 2-Verde (de 1991, conhecida no início como Ramal Paulista). As outras saíram em 2002 (Linha 5-Lilás) e em 2010 (Linha 4-Amarela).
A arquiteta e urbanista Andreina Nigriello, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP), afirma que é preciso ajustar a rede à demanda, em especial em outras cidades da Grande São Paulo. "O transporte virou uma questão pública, social. Há indicadores que mostram que têm aumentado as viagens por meios individuais, principalmente nas periferias. Quando a distância é de até 7 km, muitas vezes compensa mais ir de automóvel do que de coletivo", afirma.
O engenheiro Horácio Augusto Figueira, especialista em Transportes pela USP que já trabalhou na área de planejamento do Metrô, explica que, embora "pequeno", o sistema paulistano é hoje "imprescindível". "Se um dia fecham o metrô, a cidade entra em colapso." Segundo ele, a capital precisaria ter hoje, no mínimo, 200 km de extensão, em vez dos 75,5 km atuais. Por dia, passam pelo metrô cerca de 5 milhões de passageiros.
População. Dados do próprio Metrô revelam que a população na Grande São Paulo quase dobrou entre a década em que o primeiro trem rodou comercialmente e a atualidade. Em 1977, a área abrigava 10,2 milhões de pessoas, segundo a última Pesquisa de Mobilidade da Região Metropolitana de São Paulo, feita periodicamente pela empresa. Dois anos atrás, os habitantes chegavam a 20 milhões.
Apesar da expansão da malha metroviária, caiu a proporção de viagens realizadas de transporte coletivo. Nos anos 1970, as pesquisas do Metrô mostram que 62,8% dos deslocamentos na Grande São Paulo eram feitos em ônibus, trens e metrô. Em 2012, data da última pesquisa, o índice baixou para 54,3%.
Monotrilho
Em nota, a assessoria de imprensa do Metrô questionou a comparação feita pela reportagem, embora os dados mostrem o nível menor de expansão da rede nos últimos anos. A empresa pública também alega que a reportagem "erra ao desconsiderar os 2,9 km de monotrilho entregues recentemente".
Segundo a nota do Metrô, "o monotrilho é um modal de transporte da rede metroviária paulista, integrada de forma física e tarifária".
Matéria publicada originalmente no jornal O Estado de S. Paulo.