Principal obra para a Grande SP só poderá retirar 1/5 do volume disponível. Estatal vai pleitear maior captação após permissão para grupo usar represa na geração de energia vencer.
Por HELOISA BRENHA – da Folha de S. Paulo
Principal obra para reforçar o abastecimento da Grande São Paulo, o sistema São Lourenço vai captar apenas um quinto da água disponível em sua fonte, a represa Cachoeira do França, na região de Ibiúna (a 69 km da capital).
Isso porque uma outorga federal concede à CBA (Companhia Brasileira de Alumínio), do grupo Votorantim, o direito de utilizar a maior parte da água que chega ao reservatório para produzir energia elétrica para suas fábricas.
A concessão, porém, vence em junho de 2016 e, segundo a Folha apurou, a Sabesp tem interesse em pleiteá-la para ampliar a produção de água do sistema, que irá abastecer cerca de 1,5 milhão de pessoas quando começar a funcionar — a previsão é 2017.
Oficialmente, a companhia estadual diz apenas que a questão está sendo estudada.
Com contrato no valor de R$ 6 bilhões, o São Lourenço será construído por uma PPP (Parceria Público-Privada) entre Sabesp e consórcio das construtoras Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez, que atuarão na manutenção do sistema por ao menos 20 anos.
Só a obra custará R$ 2,2 bilhões. O sistema terá capacidade de captar até 6.000 litros por segundo, mas terá de retirar uma média de 4.700 l/s, que é o limite estabelecido pela outorga.
A represa, porém, tem disponibilidade muito maior: de 18.600 a 22.300 l/s, conforme o relatório de impacto ambiental do sistema São Lourenço.
Durante a maior parte do dia, o sistema funcionará em sua capacidade máxima, mas terá de interromper sua operação para não exceder o limite de retirada da outorga.
A Sabesp prevê paradas diárias de 4 horas que coincidam com "horário de pico do setor elétrico, quando a tarifa [de energia] é bem mais alta". O objetivo, segundo a empresa, é "reduzir o custo de bombeamento [da água]".
A vazão restante serviria à produção de energia de uma hidrelétrica da Votorantim às margens da represa, no rio Juquiá, e fornece eletricidade para a fábrica da CBA em Alumínio (a 79 km de SP).
O grupo já solicitou autorização aos órgãos reguladores para continuar usando a represa na geração de energia após o fim da outorga.
Segundo a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), a usina da Votorantim opera hoje com uma vazão aproximada de 16.500 l/s e tem 29,5 megawatts de potência.
Se a Sabesp captasse mais água para abastecimento, a produção de energia poderia ser impactada, pois depende do volume que a represa libera sobre as turbinas –quanto mais água, maior a força e mais energia produzida.
A Votorantim, porém, possui outras cinco hidrelétricas sobre o rio Juquiá, que somam uma potência de 201,2 MW.
Questionada sobre qual o prejuízo que uma retirada maior de água por parte da Sabesp significaria à sua geração de energia e às atividades de sua fábrica, a Votorantim não respondeu.
Em nota, afirmou que promove a preservação da reserva ambiental que abriga a represa e que a vazão do Juquiá durante a estiagem "não é suficiente para a manutenção da vida do rio e para a retirada média de 4.700 l/s previstos para o abastecimento".
Matéria puclicada originalmente na Folha de S. Paulo.