Desde agosto, Sabesp reduz retirada da reserva profunda das Represas Jaguari-Jacareí; nesta sexta-feira, desligou bomba.
Por Fabio Leite
A seca extrema nas represas Jaguari-Jacareí, na região de Bragança Paulista, tem dificultado a retirada de cerca de 15% da primeira cota do volume morto do Sistema Cantareira. Desde a segunda quinzena de agosto, a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) tem reduzido a retirada de água da reserva profunda dos dois principais reservatórios do manancial até desligar as bombas nesta sexta-feira, 19.
São cerca de 28 dos 182,5 bilhões de litros do volume morto que pararam de ser sugados pela concessionária depois que o trecho da Represa Jacareí, em Joanópolis, virou um córrego na proximidade do túnel de captação. Segundo o Estado apurou, a quantidade de água que tem escoado naturalmente do leito do reservatório até o local das comportas tem sido insuficiente para alimentar as bombas flutuantes que retiram até 2 mil litros por segundo da reserva profunda.
A redução das represas Jaguari-Jacareí, que correspondem a 82% da capacidade total do Cantareira, tem sido compensada com a retirada do volume morto da Represa Atibainha, em Nazaré Paulista. É de lá que a Sabesp tem retirado água para abastecer cerca de 6,5 milhões de pessoas na Grande São Paulo. Nesta sexta-feira, foram 20,1 mil litros por segundo. Essa compensação tem feito com que o nível do Atibainha caísse ainda mais rápido, de 74,14% para 27,66% em apenas um mês.
Enquanto isso, a Sabesp tem corrido com obras no leito da Represa Jacareí para conseguir usar os cerca de 31 bilhões de litros que restam hoje no reservatório, e uma segunda cota do volume morto, de 106 bilhões de litros, que ainda precisa ser aprovada pela Agência Nacional de Águas (ANA) e pelo Departamento de Águas e Energia Elétrica de São Paulo (DAEE), órgãos gestores do manancial.
A empresa vai gastar cerca de R$ 6,4 milhões para escavar e manter um canal subaquático na represa para que a água escoe com volume suficiente até as bombas de captação. “O problema da Represa Jacareí é que a captação não fica perto da barragem, mas do outro lado do reservatório, quase na cabeceira, que é uma região mais alta”, explica o professor de hidrologia da Universidade de Campinas, Antonio Carlos Zuffo.
Segundo ele, é por isso que a Sabesp tem sido obrigada a escavar o canal para que a água percorra por gravidade até o nível das bombas.
“Ainda tem um volume grande no fundo da represa, mas que fica em uma parte mais baixa. Há uma limitação hidráulica e, por isso, é preciso dragar o canal para diminuir a velocidade da água e aumentar a vazão até a chegada das bombas. O problema é que esse canal construído vai sedimentando aos poucos e exige uma retirada contínua de terra”, afirma.
Em nota, a Sabesp negou que houvesse problema de captação do volume morto na Represa Jacareí e disse que as bombas pararam para manutenção. “É lá, inclusive, que está a segunda cota da reserva técnica (volume morto), que pode ser usada caso seja necessária. A gestão operacional do sistema permite que se retire água de uma das represas enquanto a outra passa por manutenção, sem que haja interrupção na produção. A manutenção constante dos canais formados é necessária para manter a capacidade de transporte da água assegurada”, afirma a companhia.
Ao todo, a Sabesp já gastou mais de R$ 100 milhões para retirada do volume morto, incluindo o gasto com óleo diesel que alimenta as bombas flutuantes, conforme o Estado revelou em agosto. Até esta sexta-feira, a empresa já havia retirado das reservas profundas das represas Jaguari-Jacareí e Atibainha 123 bilhões de litros, restando no manancial 82 bilhões de litros.
Segundo cálculos feitos pelo professor Zuffo, esse volume deve se esgotar na primeira quinzena de novembro. Em junho, o Estado revelou que uma projeção feita pela Sabesp apontava que a primeira cota pode durar até o dia 27 de outubro.
Segundo o secretário estadual de Saneamento e Recursos Hídricos, Mauro Arce, a segunda cota do volume morto, de 106 bilhões de litros, já poderá ser retirada no mês que vem, caso haja necessidade.
Embora o volume de água que tem chegado ao Cantareira em setembro continua abaixo do pior índice já registrado para o mês em 84 anos de medição, o governo Geraldo Alckmin (PSDB) acredita que as chuvas voltem à normalidade a partir de outubro. Segundo o tucano, todas as medidas tomadas até agora garantem o abastecimento da Grande São Paulo até março de 2015 sem racionamento.
Matéria originalmente publicada no jornal O Estado de S. Paulo