Secretário de Alckmin rebateu acusações e reacendeu a disputa com o Rio de Janeiro pela água do Rio Paraíba do Sul.
Por Tiago Dantas
As medidas tomadas pelo governo paulista para evitar o racionamento de água na região metropolitana de São Paulo podem comprometer o abastecimento de água no ano que vem. A avaliação foi feita pelo diretor-presidente da Agência Nacional de Águas (ANA), Vicente Andreu, na noite desta terça-feira, durante o fórum internacional de urbanismo ArqFuturo, que está sendo realizado em São Paulo.
Os ataques de Andreu geraram uma reação imediata do secretário de Recursos Hídricos de São Paulo, Mauro Arce, que também participou do encontro. Para Arce, algumas pessoas estão "torcendo para a água acabar". O secretário aproveitou para reacender a disputa com o Rio de Janeiro pela água do Rio Paraíba do Sul, ao acusar os cariocas de não reduzirem a vazão na bacia, que também abastece cidades do interior de São Paulo.
A troca de farpas é mais um capítulo da crise hídrica que começou com um verão pouco chuvoso entre 2013 e 2014. Na última semana, a ANA anunciou que ia desmontar o Grupo Técnico de Assessoramento para a Gestão do Cantareira (GTAG), criado para administrar a crise, depois que o governo paulista não cumpriu uma promessa de reduzir a retirada de água do sistema. O secretário Arce, por sua vez, disse que nunca assumiu esse compromisso.
– Da maneira como (a crise) está sendo administrada (pelo governo paulista) nós estamos comprometendo o ano de 2015 e o futuro do abastecimento na região metropolitana de São Paulo – afirmou Andreu.
– Se não tivermos chuvas bastante intensas, a situação para o ano que vem é bastante complicada, uma vez que todas as disponibilidades de água no volume morto estarão sendo utilizadas.
Desde maio, São Paulo utiliza o chamado volume morto, uma quantidade de água que está abaixo dos canos de distribuição. Como essa reserva também está perto do fim (nesta terça, o volume do sistema Cantareira está em 7,8%), o governo de São Paulo já anunciou que pode usar uma segunda reserva de água que está abaixo do nível da captação. Mas, segundo Arce, essa medida só deverá ser tomada se não chover nos próximos 75 dias.
– Era necessário que a gente continuasse reduzindo a quantidade de água. Deveríamos discutir qual a quantidade do volume morto deveria ser guardada para atravessar o período chuvoso que está por vir. Se ele não for positivo, não haver quantidade de água para enfrentar próximo período seco. O governo fala que tem água até março. Mas e em abril, e em maio? – questiona Andreu.
O presidente da ANA também criticou o governo de São Paulo por não mostrar à população paulista a real gravidade do problema de falta d'água:
– Entre uma mensagem de gravidade de alguém que a população praticamente nem conhece, como ANA, e a mensagem dos principais dirigentes do Estado dizendo que está tudo tranquilo, essa população tende a acreditar que está tudo tranquilo. Tanto é que o consumo tem aumentado.
Mauro Arce discordou de Andreu e aproveitou para apontar o que considera ser uma diferença de tratamento dada para outros estados.
– Nunca um assunto foi tão debatido quanto esse. A crise é extremamente grave nunca deixamos de falar isso e de pedir para a população economizar – afirmou o secretário. – Mas não vejo a mesma preocupação com o Rio de Janeiro, que não diminuiu a vazão no Rio Paraíba do Sul, como era esperado.
O secretário paulista voltou a negar que haja racionamento de água na região metropolitana. Segundo ele, se houvesse optado por um rodízio, o estado de São Paulo teria conseguido resultados piores na economia de água. Ele citou o programa de concessão de descontos para quem gastar menos, o remanejamento da rede de água e a redução da pressão nos canos durante a noite como medidas bem sucedidas para lidar com a crise.
Matéria originalmente publicada no jornal O Globo