Corte de água durante a noite já atinge ruas dos Jardins; Sabesp nega

Em ruas como a Haddock Lobo e a Alameda Tietê, condomínios, bares e restaurantes têm registrado interrupção do fornecimento.

Por Luiz Fernando Toledo

Condomínios, bares e restaurantes do bairro dos Jardins, zona sul de São Paulo, têm registrado corte no abastecimento de água durante toda a madrugada. Em ruas como a Haddock Lobo e a Alameda Tietê, zeladores e comerciantes relataram que a interrupção ocorre entre 22 e 6 horas. O problema só não é percebido pelos moradores porque todos os imóveis têm reservatório próprio. 

Diante da crise hídrica que atinge o Estado de São Paulo, a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) tem praticado a redução na pressão da água na rede durante a noite, como parte de um programa de sua gestão operacional. Apesar dos relatos, a companhia nega corte de água.

Em uma lanchonete na Rua Haddock Lobo, funcionários relataram ao Estado que o abastecimento é cortado há pelo menos um mês depois das 23 horas. “Como temos caixa d’água, não há problema, mas algumas vezes já chegou a faltar”, afirmou uma gerente, que preferiu não se identificar.De acordo com ela, nestas ocasiões os atendentes chegaram a armazenar água em galões para suprir a demanda de clientes – o estabelecimento só fecha na madrugada. 

Na mesma rua, o Estado apurou que pelo menos dois condomínios passam pela mesma situação. O porteiro Antonio Everaldo da Silva, de 63 anos, contou que “dia sim, dia não” nota a falta d’água. Como o banheiro do funcionário é o único do prédio que é abastecido diretamente pela água da rua, a torneira deixa de funcionar. “A gente precisa usar um banheiro lá no fundo, que recebe da caixa d’água”, explicou. 

O zelador Antonio Mendes confirmou a informação. “Os moradores só não reclamam porque o reservatório é de 60 mil litros, então o problema não chega nos apartamentos”, disse. Para conscientizá-los, Mendes colou um aviso escrito por ele no elevador, pedindo economia. “A Sabesp já está interrompendo o fornecimento durante a noite. O problema da falta de água em SP é real”, diz o texto. 

Outro condomínio na mesma via enfrenta o mesmo problema. O porteiro Luís Lino, de 43 anos, foi o primeiro a notar. “Estamos sem água à noite há uns 15 dias. Percebo porque não dá para usar o banheiro aqui”, disse. De acordo com Lino, os moradores no local tomaram consciência de um possível racionamento e, há três meses, decidiram economizar no uso. “A conta diminuiu uns 30%.”

A mesma história se repete em um restaurante na Alameda Tietê, em que o abastecimento é interrompido pontualmente às 22 horas. Assim como nos outros locais visitados, um funcionário do local contou que se não fosse a caixa d’água, o problema poderia comprometer o atendimento no local. 

Para todos os casos, a Sabesp negou falta de abastecimento. De acordo com a companhia, todos os endereços mencionados pela reportagem foram visitados por técnicos e apresentaram abastecimento normal, com pressão mínima de 10 metros de coluna d’água (mca). “Não há registros de ocorrência de falta d’água na central de atendimento para nenhum imóvel mencionado”, completa a nota da assessoria de imprensa.

Crise

Bairros da zona norte foram os primeiros a sofrer com o corte. Os casos começaram a se intensificar em fevereiro, quando a Sabesp tornou público que o Sistema Cantareira – que responde por 45% da Grande São Paulo e parte da capital – estava em crise.

A chuva que atingiu a região do Cantareira, o principal sistema que responde por 45% do abastecimento da região metropolitana de São Paulo, na sexta-feira, 26, e no sábado, 27, não foi suficiente para fazer com que o nível do reservatório caísse novamente.

De acordo com dados da Sabesp, o reservatório operava neste domingo, 28, com 7,1% de sua capacidade, nível mais baixo registrado na história. No sábado, o índice era de 7,2%. No mesmo período, há um ano, esse nível chegava a 40,8%.

De acordo com a companhia de saneamento, choveu 22,7 milímetros no sábado enquanto a média histórica para o mês de setembro é 91,9 milímetros. Ainda segundo as informações da companhia, até agora, a pluviometria acumulada no mês é de 62,9 milímetros. No domingo, não choveu na região dos reservatórios.

Volume morto

A Sabesp acredita que a sequência de chuvas prevista pode até elevar o nível das represas, que só caem desde abril. Desde julho, o sistema opera exclusivamente com água do volume morto, a reserva profunda dos reservatórios.

Matéria originalmente publicada no jornal O Estado de S. Paulo

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