Após implantação das faixas exclusivas na capital, há quem aproveitou o embalo e se deu muito bem.
Por Rafael Italiani
A expansão das ciclovias em São Paulo está mudando a cidade e a vida dos paulistanos. É o que aconteceu com um experiente empresário, que trabalhou por 22 anos no mercado financeiro, com um mecânico que arrumou bicicletas por 15 anos aos domingos no Minhocão, e com uma família que comprou uma bicicletaria prestes a falir e que, uma semana depois, ganhou uma via exclusiva para bike na entrada – e deixou o antigo dono arrependido.
“Aproveitei o momento em que a cidade está discutindo a bicicleta, querendo pedalar e que as ciclovias estão se espalhando para sair do meu antigo emprego e ir atrás do que me faz feliz”, disse o empresário Clademilson Torres dos Santos, de 42 anos, dono da Spokes. Conhecido como Guga entre os ciclistas, ele trabalhava como superintendente comercial do Banco Safra até 90 dias atrás.
“O mercado das bicicletas mudou de forma geral. Estamos percebendo que tem aumentado o ciclista urbano, aquele que quer pedalar para conhecer os locais da cidade ou chegar ao trabalho em um bicicleta estilosa”, afirmou.
Santos abriu a primeira loja há três anos em uma galeria na Rua Augusta, já na altura da Avenida Paulista. Depois, largou o antigo emprego. Além de aproveitar o momento atual da capital paulista, o empresário resolveu também dedicar-se à nova loja, na Rua Peixoto Gomide, no Jardim Paulista, zona sul, especializada em mountain bike e em outras categorias de ciclismo. “E vamos expandir. Em breve inauguro a terceira loja.”
Ele afirma que, apesar de faturar menos do que ganhava quando trabalhava na área financeira, sente-se feliz por estar no ramo de que gosta e por ter trocado os ternos e sapatos por camisetas, bermudas e tênis.
Aposta e sorte
O comerciante Victor Hugo Duran Torrico, de 41 anos, sempre trabalhou com pequenos negócios. Quando comprou e assumiu a bicicletaria de um amigo, na Rua Doutor Albuquerque Lins, em Santa Cecília, na região central de São Paulo, ele seguiu o conselho do pai, mecânico de bicicletas há 50 anos. Torrico, claro, também gosta de andar de bicicleta pela capital.
“Foi incrível terem feito uma ciclovia na frente da minha loja 15 dias depois da inauguração. Hoje, a minha clientela está ligada a essa faixa. Muita gente traz a bicicleta que estava parada havia anos, cheia de poeira, para arrumar. Outros compram modelos novos”, disse.
Ao assumir o comércio, a expectativa de faturamento mensal era de R$ 8 mil, o mesmo que o antigo dono – que ficou arrependido após a inauguração da faixa – ganhava mensalmente. Com a ciclovia que vem desde Perdizes e tem cerca de 4,2 quilômetros de extensão, o caixa de Torrico registra uma média de R$ 20 mil por mês.
Saiu do Minhocão
Dono de uma pequena oficina na Rua Doutor Carvalho de Mendonça, também em Santa Cecília, o mecânico José Edmilson da Silva, de 53 anos, conhecido como Bigode, arrumava bicicletas todos os domingos no Minhocão. “Eu fazia serviços como troca de pneu e corrente. Cobrava no máximo R$ 30.”
Agora, aos domingos, ele não precisa mais ir até os ciclistas. “Eu deixo uma placa lá no Minhocão e eles vêm até aqui empurrando a bicicleta. Às vezes, faço o resgate de moto.” Silva também está trabalhando mais. “Antes das ciclovias, eu montava três bicicletas por mês, mesma quantidade que tenho feito por semana. O movimento melhorou em 30%.”
“Geralmente, arrumo bicicletas que estavam abandonadas de gente que resolveu pedalar após a criação das ciclovias”, afirmou Silva. Enquanto a reportagem conversava com ele, na semana passada, quatro clientes foram até o local retirar as bicicletas. “A maioria dos clientes mora no centro e está indo trabalhar de bicicleta.”
Matéria originalmente publicada no jornal O Estado de S. Paulo