Com mais ciclovias, paulistano troca carro por bicicleta elétrica

Por Artur Rodrigues e Fabrício Lobel

Antes de sair de casa, em Pinheiros (zona oeste de São Paulo), Rafael Botelho, 35, gerente de investimentos de um grande banco, veste seu terno preto, gravata e sapato social finamente engraxado.

Em seguida, coloca colete refletor, capacete, óculos escuros e uma tornozeleira também refletiva para que a calça social não se enrosque nas correias da bicicleta elétrica.

"Não posso chegar suado, então optei por uma bicicleta elétrica", diz. "E passar a andar de bicicleta mudou minha relação com a cidade."

Cada vez mais paulistanos (por nascimento ou por adoção, como no caso do carioca Rafael) estão adotando as bicicletas elétricas para evitar o trânsito da cidade.

Segundo fábricas e revendedores do produto, a política de ampliação da rede de ciclovias e ciclofaixas tem impacto direto nesse aumento.

Caio Ribeiro, executivo da Sense Bikes, especializada em bicicletas elétricas, diz que a alta das vendas da empresa costumava, nos últimos meses, variar de 5% a 10% em relação ao ano passado. "Em agosto e setembro, minhas vendas aumentaram 40%."

De acordo com donos de lojas especializadas, há um movimento crescente de pessoas trocando seus carros por modelos elétricos de bicicletas.

Um deles é o assistente jurídico Thiago Ermel, 33, que vai todos os dias de casa, em Pinheiros, ao trabalho, na Liberdade (centro). Faz o trajeto em 25 minutos, o mesmo tempo que levava de carro.

"Mas eu tinha mais dor de cabeça, porque tinha que pagar estacionamento, gasolina, manutenção. Hoje, economizo muito dinheiro", diz.

As ladeiras do bairro onde mora foram fundamentais na escolha. "Acho que a grande diferença de usar a elétrica é se você tem um caminho que é um pouco mais difícil, que não é todo plano, e não tem como tomar um banho e se trocar no seu trabalho", diz.

Para ele, usar a bicicleta elétrica é parecido com a comum, com menos esforço. "É como pedalar uma bicicleta ergométrica numa carga mais baixa. A bicicleta comum seria com uma carga maior."

Obstáculos

Pela resolução do Conselho Nacional de Trânsito, para poder utilizar a ciclovia e ser tratada como uma bicicleta comum –ou seja, sem requerer habilitação–, a elétrica tem de ter potência de até 350 watts, velocidade máxima de 25 km/h e não utilizar acelerador para ativação.

O consultor em mobilidade e cicloativista Daniel Guth diz que a expansão dessas bicicletas deve ser limitada pelo preço. Os modelos mais baratos estão na faixa de R$ 2 mil.

"O Brasil tem uma das bicicletas mais caras do mundo, com 72,3% de impostos sobre o custo. A carga tributária está mais próxima dos produtos nocivos, como cigarro e álcool, do que dos benéficos à saúde", diz.

A Dafra Motos, que produz bicicletas assim, diz que começou a fazer o produto pensando no usuário de transporte coletivo sem dinheiro para comprar uma moto.

Porém, a experiência da empresa mostrou que o cliente preferencial são pessoas que possuem carros, mas que buscam ter uma melhor qualidade de vida. 

Matéria originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo

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