Engenheiro de São Paulo inventa máquina que ‘fabrica’ água

Por Felipe Souza

Falta de água, racionamento e calor são temas que preocupam o governo paulista nos últimos meses, em meio à maior crise hídrica da história. Para um inventor de Valinhos, a 85 km de São Paulo, a solução para esses problemas veio, literalmente, do ar.

Engenheiro mecatrônico, Pedro Ricardo Paulino patenteou em 2010 a Wateair, máquina que faz água condensando a umidade do ar.

A água produzida -que passa por um sistema de purificação que elimina as bactérias- é tão limpa que seu uso inicial foi em máquinas de hemodiálise. Para ser consumida, ela precisa passar por um segundo filtro, que adiciona sais minerais à solução.

Tudo o que a Wateair precisa para funcionar é estar ligada na tomada. Quanto mais úmido estiver o ambiente, mais ela produz. Porém, se a umidade cair a menos de 10%, ela para de funcionar. Isso elimina o risco de deixar um ambiente fechado muito seco. No dia mais seco deste ano em São Paulo, o nível chegou a 19%.

Salgada

A contadora Maria Helena Castro, 31, comprou uma máquina em maio para suprir a falta d'água no sítio dela em Itu (a 101 km de SP).

Ela desembolsou R$ 120 mil na versão que produz até mil litros por dia. "Tinha problemas com falta de água desde fevereiro. Hoje, crio minhas galinhas, porcos, coelhos e irrigo minha plantação sem dor de cabeça", diz.
Maria Helena conta que o preço compensa e que ainda não precisou fazer nenhuma troca de filtro ou manutenção.

O inventor explica que, como os componentes da máquina são importados e a demanda ainda é pequena, os custos são elevados. "Tudo é encomendado e praticamente não existe nada feito em linha de produção", afirma.

A menor máquina, que produz 30 litros por dia com a umidade relativa do ar a 80%, custa R$ 7.000. A maior, que chega a 5.000 litros por dia, é vendida por R$ 350 mil.

Segundo o criador, o gasto de energia elétrica para fazer um litro de água é equivalente a R$ 0,17 em São Paulo. Portanto, encher uma caixa d'água de mil litros custa R$ 170.

A Sabesp cobra em média R$ 7,25 (incluindo a tarifa de esgoto) para distribuir a mesma quantidade a uma família de quatro pessoas. Ainda assim, o inventor diz que a procura pela máquina aumentou exponencialmente nos últimos meses.

"Os clientes antes eram escolas ou pessoas que precisavam de água potável em menor quantidade. Agora, vendemos a restaurantes, produtores de remédios e outros prejudicados pelo fornecimento de água e pela dificuldade da captação por poços", diz.

Segundo o engenheiro, um aparelho de ar-condicionado comum faz algo semelhante, mas produz água com metais pesados e bactérias.

Paulino começou o projeto nos anos 1990, numa multinacional. Em 2006, passou a desenvolver a máquina com o próprio dinheiro. Quatro anos depois, conseguiu atestar a qualidade da água produzida e patenteou a Wateair.

Para o inventor, o aparelho pode ser uma das soluções para a crise. "Máquinas como essa em escala gigante e a dessalinização da água do mar são opções para o futuro de São Paulo."

Como funciona

1 – Turbinas aspiram o ar para dentro da máquina

2 – As moléculas de água são condensadas e tornam-se líquidas

3 – Filtros e raios ultravioleta purificam a água

4 – Outro filtro adiciona sais minerais

5 – Pronta para ser consumida, a água é armazenada em um reservatório 

Matéria originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo

Compartilhe este artigo