Ao menos 67 municípios de São Paulo e Minas têm sofrido interrupção de abastecimento de água nas últimas semanas. A escassez forma uma espécie de "cinturão da seca", que vai da Grande São Paulo ao sul de Minas e ao Triângulo Mineiro e remete ao "polígono da seca" nordestino.
O levantamento feito pela Folha abrange uma área com população de cerca de 24 milhões –mais do que a do semiárido nordestino.
Não há estimativa de quantas pessoas ficaram, de fato, sem água em São Paulo e no interior mineiro neste ano.
As regiões enfrentam problemas em diferentes níveis.
Entre as fornecedoras de água estão autarquias municipais e a Sabesp (estatal paulista). A água é captada de forma superficial e, em alguns casos, de poços.
Em Franca, por exemplo, houve cortes por seis dias consecutivos, na semana passada. Os níveis de rios e córregos baixaram tanto que a Sabesp teve de usar caminhões-pipa para tirar água de lagoas e represas de forma emergencial.
Em 15 cidades próximas a Ribeirão Preto, cujo abastecimento é gerido pelas prefeituras, há racionamento. A cidade, que capta água totalmente do Aquífero Guarani, com poços relativamente profundos, também sofre por excesso de uso de água.
Campinas há dez dias não tem água para levar a todos. Com isso, ao menos 250 mil do 1,1 milhão de habitantes não recebem água por dia.
"Chego a ficar 18 horas sem água, e quando volta é só por duas horas", diz a professora de português Vilma Ártico, 59.
Apesar disso, a Sanasa (empresa de água e esgoto), que compra água da Sabesp, nega que haja rodízio ou racionamento no município.
No Triângulo Mineiro, Uberaba e Uberlândia, que somam quase 900 mil habitantes, estão ameaçadas.
Uberaba decretou estado de emergência em setembro e está multando desperdício.
Em Uberlândia, há nove dias, o bombeamento de água foi reduzido no período da manhã para todos os bairros.
Na Grande São Paulo, com 20 milhões de habitantes, um dos principais motivos pela crise foi a histórica queda do nível do sistema Cantareira, que nesta segunda (20) chegou a 3,5% da capacidade.
Para contornar o problema, a Sabesp adotou algumas medidas, como bônus por economia e uso do volume morto e de águas de outras bacias.
A empresa esperava que, com isso e a volta das chuvas, os reservatórios atingissem níveis confortáveis de novo, mas a situação se agravou.
Logo, cidades da Grande São Paulo como Suzano e Ferraz de Vasconcelos, abastecidos pelo Alto-Tietê, passaram a ter cortes, dizem moradores. Guarulhos, segunda maior cidade paulista, está ao menos desde fevereiro sob rodízio.
Até o fim da semana, o Inmet não prevê grandes chuvas no Estado de São Paulo ou o sul de Minas. (Camila Turtelli, Cesar Rosati, Eduardo Geraque, Fabrício Lobel, João Alberto Pedrini, Lucas Sampaio e Thomaz Fernandes)
Matéria originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo