Aquífero Guarani pode aliviar crise do Cantareira

Projeto da USP feito para comitê de Alckmin mostra que 24 poços teriam capacidade para abastecer até 300 mil na região de Piracicaba.

Por Fabio Leite

Geólogos da Universidade de São Paulo (USP) elaboraram um projeto que propõe captar mil litros por segundo do Aquífero Guarani em Itirapina, a cerca de 190 km da capital, para abastecer até 300 mil pessoas que são atendidas hoje pelo Sistema Cantareira na região de Piracicaba. A proposta serviria para reduzir o estresse sobre o manancial, de onde a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) já capta água da segunda cota do volume morto.

O estudo, que ainda não foi concluído, mas será apresentado ao grupo especial de ações estratégicas em recursos hídricos criado em julho pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB), prevê a construção de um campo com 24 poços artesianos na região de afloramento – parte mais rasa – da reserva subterrânea. Eles ficariam distantes 500 metros entre si, para que um não “roube” água do outro, e teriam entre 150 e 300 metros de profundidade.

Segundos os cálculos dos especialistas, cada poço poderia bombear até 150 mil litros por hora até uma grande caixa d’água na superfície.

Desse reservatório externo, a água seria transportada por meio de uma adutora até uma estação de tratamento na região de Piracicaba, que fica a cerca de 55 km do campo de poços. Como Itirapina fica em uma área montanhosa, cem metros acima do nível de Piracicaba, essa transposição ocorreria por gravidade, como funciona nas cinco represas que formam o Sistema Cantareira, o que reduz os custos.

Só com os poços e as bombas, o investimento previsto seria de R$ 40 milhões – o orçamento total, contudo, ainda não foi calculado pelos especialistas. As obras poderiam ser concluídas em um ano. 

Em 2004, um estudo feito pela Sabesp para retirar até 5 mil litros por segundo do Aquífero Guarani para atender a região de Campinas, que também é abastecida pelo Cantareira, previa um investimento de até R$ 745 milhões. De acordo com o levantamento feito, seria necessário construir 270 poços para atingir a oferta de água pretendida, cinco vezes maior do que a prevista no estudo da USP.

Para levar o mesmo volume de água do Guarani até a Grande São Paulo, a Sabesp previu um custo de até R$ 1,2 bilhão. As duas alternativas foram descartadas à época, quando a outorga do Cantareira foi renovada. 

Segundo o diretor do Centro de Pesquisa de Águas Subterrâneas (Cepas) do Instituto de Geologia da USP, Reginaldo Bertolo, o Aquífero Guarani deve ser visto como uma alternativa para reduzir o estresse hídrico da região de cobertura do Cantareira. “Para a Grande São Paulo é difícil pensar, mas para a Bacia do PCJ Piracicaba, Capivari e Jundiaí, que fica mais próxima, não só é viável como diminuiria o estresse hídrico da região e sobraria mais água no Cantareira para atender a região metropolitana”, disse. Os mil litros por segundo retirados da reserva subterrânea poderiam abastecer, por exemplo, toda a população de Americana e Nova Odessa juntas. 

Economia

Atualmente, o Cantareira fornece 19 mil litros por segundo para a Grande São Paulo, onde 6,5 milhões de pessoas ainda dependem do manancial, e mais 4,5 mil litros por segundo para as regiões de Campinas e Piracicaba, onde vivem 5,5 milhões de pessoas. Em tempos de seca, cada litro poupado tem sido comemorado pelo governo. Há duas semanas, por exemplo, os órgãos reguladores aprovaram um aumento de mil litros por segundo para socorrer Campinas, que adotou rodízio no abastecimento, mas Alckmin liberou metade. 

Coordenador do projeto de Itirapina e integrante do grupo estratégico criado pelo governador, o hidrogeólogo Ricardo Hirata destaca a necessidade de se planejar o uso das reservas superficiais e subterrâneas de forma integrada. 

“Há potencialidade para muitas cidades operarem conjuntamente os dois mananciais, tirando proveito do melhor momento de um ou outro recurso. Durante o excesso de água superficial, por exemplo, usar o excedente tratado para recarregar o aquífero, se necessário, e extrair água de poços na estiagem. O segredo é operar de forma inteligente”, afirma.

Matéria originalmente publicada no jornal O Estado de S. Paulo

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