Por Artur Rodrigues e Eduardo Geraque
Todas as regiões da cidade de São Paulo serão afetadas com a decisão do governo do Estado de tornar permanente a estratégia de reduzir a pressão na rede distribuidora de água durante as noites.
Essa medida é a principal hipótese para a constante falta de água nas residências da cidade e do restante da região metropolitana da capital.
Mas, segundo a Sabesp (estatal do governo paulista), isso não representa um racionamento, e sim uma medida que traz uma "economia fabulosa" de água ao evitar o seu desperdício -quanto maior a pressão, maior a perda de água ao longo da rede.
No último domingo, em entrevista ao "Fantástico", da TV Globo, o gerente de produção da Sabesp, Marco Antônio Lopez de Barros, afirmou que a empresa "nunca mais" abandonará a prática de reduzir a pressão da água.
A companhia admite que pessoas que moram em áreas muito altas ou distantes podem ser atingidas. Pelas contas da Sabesp, o percentual de afetados não passa de 2% da Grande São Paulo, o equivalente a 400 mil pessoas.
Pesquisa Datafolha do mês passado, no entanto, revelou que 60% dos paulistanos disseram ter sofrido com a falta de água ao menos uma vez num intervalo de 30 dias.
Além disso, a prática de diminuição da pressão da água pela Sabesp, apesar de ser comum em outras cidades do mundo, precisa ser bem planejada, para não deixar a população sem água, diz Pedro Cortes, professor da USP e do Programa de Mestrado em Gestão Ambiental da Universidade Nove de Julho.
A Sabesp sustenta que a população deve ter caixa de água suficiente para o abastecimento 24 horas.
"Mesmo que as pessoas utilizem reservatórios adicionais, o problema é que não há água disponível para atender a todos da mesma maneira que ocorria antes da crise", diz o professor da USP.
"Uma pessoa pode até comprar um reservatório adicional, mas talvez não receba água suficiente".
Outra consequência, segundo ele, pode ser a contaminação da rede. "A água do subsolo poderá infiltrar na tubulação pelas falhas responsáveis pelos vazamentos."
A Sabesp negou pedido de entrevista feito pela Folha sobre a redução de pressão. Em nota, afirmou que a medida é adotada desde 2007. "Não há planos nem motivos para interromper essa dinâmica, já que ela reduz o desperdício", afirma a Sabesp.
Desde o início da crise da água deste ano, quando a empresa intensificou a medida ao diminuir a pressão em até 75%, aumentaram as queixas de desabastecimento.
Matéria originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo