Cerca de 54 mil passageiros usaram a modalidade, mas expectativa era de 862 mil. Prefeitura aponta baixa adesão de empresas a vale-transporte como um dos motivos para desempenho do serviço.
Por ANDRÉ MONTEIRO, DE SÃO PAULO
Estrela da campanha à Prefeitura de São Paulo e uma das primeiras promessas cumpridas pela gestão Fernando Haddad (PT), o Bilhete Único Mensal ainda patina um ano após ser criado.
O cartão, que permite uso livre de ônibus, metrô ou trem por um mês a um preço fixo, foi usado por 54,2 mil passageiros em outubro, segundo a SPTrans (empresa que gerencia o transporte municipal).
Isso representa 6% do que a prefeitura estimava atingir ao lançar o bilhete, em novembro de 2013, e 1% dos usuários do Bilhete Único tradicional.
No lançamento, Haddad disse que 862 mil usuários –17% do total– já gastavam mais comprando passagens individuais do que as tarifas mensais e que esse seria o público-alvo do programa.
O crédito mensal custa R$ 140 para uso só de ônibus ou só metrô/trem e R$ 230 para o uso integrado.
Dessa forma, o modo mensal compensa para quem faz mais de 46 ou 49 viagens por mês. Quem só vai e volta do trabalho, por exemplo, geralmente faz 44 viagens/mês.
Em metrópoles com programas semelhantes, as tarifas são mais vantajosas –em Londres, por exemplo, elas compensam para quem faz a partir de 25 viagens/mês.
A gestão Fernando Haddad (PT) diz que o objetivo do Bilhete Único Mensal é "oferecer alternativas aos passageiros do transporte público".
Questionada sobre a baixa procura, a gestão afirma que "o ritmo de adesão" depende de cada passageiro.
Segundo passageiros ouvidos pela Folha, uma das dificuldades é ter que fazer o pagamento de uma só vez.
A auxiliar Laís Xavier, 27, conta que o bilhete mensal seria vantajoso para ela porque usa "bastante ônibus, umas mil viagens por mês". "Mas não tenho carteira assinada, então não ganho de uma vez."
A prefeitura reconhece a questão como uma das hipóteses de não atingir a meta.
Outra é que "empregadores continuam fornecendo o vale-transporte em crédito comum". Segundo balanço de maio, apenas 3% dos bilhetes mensais eram vales-transporte, contra uma estimativa inicial de 63%.
Marcelo Correa, assessor jurídico da FecomercioSP, diz que o gasto médio das empresas com o transporte de cada funcionário aumentaria entre R$ 20 e R$ 60 reais. "Todo gasto a mais faz muita diferença no fechamento das contas."
Apesar de restrita, a adesão ao programa dobrou de março para outubro.
Uma utilização maior do programa mensal representaria aumento do subsídio ao sistema de ônibus, que em 2014 deve chegar a R$ 1,7 bilhão.
Matéria publicada originalmente no jornal Folha de S.Paulo.