Em outubro foram 267,6 milhões, 2º valor mais alto da história. Usuários elogiam velocidade de novos corredores e criticam lotação.
O número de viagens realizadas nos ônibus da cidade de São Paulo bateu em outubro o recorde da gestão Fernando Haddad. O patamar chegou a 267,6 milhões – e é também o segundo mais alto da história, atrás apenas de agosto de 2012 (268 milhões).
Por Caio do Valle e Marco Antônio Carvalho
O mês passado obteve o registro de 23 milhões a mais de viagens do que a média do ano. A São Paulo Transporte (SPTrans) atribui o desempenho às eleições, realizadas em dois domingos do mês. Passageiros, porém, relatam aumento da lotação no dia a dia.
Um exemplo de novo usuário do sistema é o morador de Itaquera Peterson Augusto de Campos dos Santos, de 28 anos, que estuda em uma faculdade da Barra Funda, na zona oeste. Ele disse que deixou de usar a Linha 3-Vermelha do Metrô para se deslocar até a faculdade. Passou a tomar ônibus há alguns meses, já que o tempo total da viagem é menor. "De metrô, contando os minutos gastos na fila para entrar, de manhã, levava uma hora e meia. Agora, de ônibus, vou em cerca de 40 minutos."
O universitário atribui o melhor desempenho dos ônibus à criação de faixas exclusivas. Ele critica, no entanto, o corte de algumas linhas que seguiam diretamente para o centro, vindas do bairro. Com isso, segundo Santos, diminuíram as opções, tornando as viagens nos horários de pico mais lotadas e desconfortáveis (embora rápidas) nas ligações diretas que restaram entre as duas regiões.
Na avaliação de Horácio Augusto Figueira, mestre em Transportes pela Universidade de São Paulo (USP), há falta de ônibus circulando nos horários de pico. "Mesmo com a faixa exclusiva, que resultou no aumento da velocidade operacional, ainda falta operar com mais frota nesse horário. Tem de haver oferta plena nos horários de pico. E em algumas linhas fora do pico também", afirma.
O especialista também sugere que a Prefeitura crie linhas troncais em eixos como o Norte-Sul e o que fica entre a Barra Funda e a região da Sé com ônibus superarticulados (que atendem um maior número de passageiros) e com uma frequência maior, para torná-los mais atraentes e confortáveis.
A auxiliar administrativa Cristiane da Silva Pereira, de 38 anos, afirma que o ônibus que pega diariamente para chegar à Estação Corinthians-Itaquera do Metrô, na Linha 3-Vermelha, está fazendo viagens mais demoradas. "É porque mais gente está usando a integração entre metrô e trem na estação, o que atrai mais pessoas", arrisca a auxiliar administrativa. De acordo com Cristiane, o tempo da viagem entre a Cohab Bonifácio e a parada, que antes era de 15 minutos, dobrou.
Transporte público
A gestão Haddad vem investindo em políticas que privilegiam o transporte coletivo. A Prefeitura apostou na criação de faixas exclusivas de ônibus (até setembro de 2014 foram implementados 357 quilômetros) e na construção de ciclovias, que somam 175,5 quilômetros – a promessa são 400 quilômetros até o fim de 2015. Pesquisas feitas pelo Ibope mostraram aprovação às medidas: 93% dos paulistanos deram aval às faixas exclusivas de ônibus e 88% às ciclovias.
A Prefeitura também iniciou a reorganização das linhas de ônibus, o que causou na época a reação dos usuários; criou o Bilhete Único Semanal e Mensal; e implementou o primeiro semáforo exclusivo para ônibus, na Lapa. No entanto, ainda não conseguiu tirar do papel a licitação para os corredores de ônibus nem para a construção de terminais.
Apesar de tamanho investimento, nos dez primeiros meses deste ano a quantidade média mensal de viagens feitas nos ônibus gerenciados pela SPTrans foi de 244 milhões, apenas 1 milhão a mais do que o registrado em 2013 e em 2012 inteiros. Para Figueira, a variação observada nesses anos é pequena e representa estabilidade no sistema.
O engenheiro Luiz Célio Bottura, ex-ombudsman da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), concorda. "Foi menos de 0,5% (o aumento de viagens em outubro de 2013 em relação ao mesmo mês de 2014). Apesar das facilidades do Bilhete Único e dos corredores, o crescimento não foi tão significativo." Para Bottura, se os ônibus trafegam com mais rapidez nos corredores, a alta deveria ter sido maior. "Pelos índices divulgados sobre os benefícios das faixas, dos corredores e das outras intervenções, a utilização do ônibus deveria ser maior."
'Mudanças atípicas'
A SPTrans informa que 2014 "tem sido marcado por situações atípicas, como a mudança do calendário escolar e a realização da Copa do Mundo, que afetaram fortemente a circulação de pessoas na cidade, incluindo a decretação de feriados pontuais". Além disso, segundo a empresa, houve greves no ônibus e no metrô, "que afetaram as bases de comparação". Para o órgão, este ano deve fechar com uma demanda "em valores muito próximos aos de 2013", que teve um total de 2,441 bilhões de viagens realizadas.
Matéria originalmente publicada no jornal O Estado de S. Paulo