Sistema Alto Tietê corre risco de entrar em colapso antes do Cantareira

Por Eduardo Geraque

O sistema Alto Tietê, que abastece 4,5 milhões de moradores na região leste da Grande São Paulo, depende de chuva intensa nas próximas semanas para não entrar em colapso em janeiro, antes mesmo do Cantareira.

O nível das represas do sistema baixou e atingiu 4,7% nesta segunda (8) –menos que os 7,8% do Cantareira.

Só em novembro, as águas represadas baixaram 3,2 pontos percentuais no Alto Tietê, que serve parte da zona leste da capital e outros municípios da região metropolitana, como Mogi das Cruzes e Poá.

E a seca se agravou neste começo de mês: enquanto a chuva em novembro foi de 3,6 mm/dia, em dezembro está por enquanto em 1,3 mm/dia.

Segundo Roberto Kachel, engenheiro especialista em hidrologia e membro do Comitê da Bacia Hidrográfica do Alto Tietê, será preciso chover acima da média histórica –de 6,2 mm/dia em dezembro– nas próximas semanas para ele não se esgotar.

"Se chover na média tudo indica que a água no Alto Tietê acaba em 30 dias", afirma.

Nos últimos meses, a Sabesp vinha remanejando água de outros reservatórios –inclusive do Alto Tietê– para suprir a crise no Cantareira.

Kachel, que é ex-funcionário da Sabesp, afirma que a reserva do Alto Tietê, usada desde outubro, está acabando –restando apenas um terço do chamado volume morto.

Já no Cantareira, se a intensidade de chuvas não aumentar muito até março, a gestão Geraldo Alckmin (PSDB) ainda terá em 2015 a possibilidade de recorrer à água da terceira cota do volume morto –se a manobra for aprovada por órgãos responsáveis.

Professor na Universidade Mogi das Cruzes, Kachel afirma que a situação do Alto Tietê chega a ser mais grave do que a do sistema Cantareira –apesar do destaque dado a este pela Sabesp.

Pelos cálculos do pesquisador, a captação de água no sistema Alto Tietê ficará inviável quando seu nível chegar próximo de 1%.

Questionada se existe um plano B para evitar colapso no Alto Tietê, a Sabesp disse, em nota, que "com a chegada do período de chuvas mais intensas, a expectativa é que" esse sistema "volte a subir".

Consumo, evaporação das represas e vazão retirada dos reservatórios também interferem no nível dos mananciais.

Reservatórios

O nível dos seis principais reservatórios que abastecem a região metropolitana de São Paulo teve redução em sua capacidade nesta terça-feira (9).

De acordo com a Sabesp, o sistema Alto Tietê teve queda de 0,1 ponto percentual e opera com 4,6% de sua capacidade. O reservatório abastece 4,5 milhões de pessoas. Já o Cantareira, que fornece água para cerca de 6,5 milhões de pessoas, opera com 7,7% de sua capacidade –já com o segundo volume morto.

Os reservatórios Rio Grande e Alto Cotia também caíram 0,1 ponto percentual de segunda para terça. O sistema Rio Grande, que fornece água para 1,2 milhão de pessoas, opera com 62,1% de sua capacidade. O Alto Cotia, que atende a 400 mil pessoas, opera com 29,4% de capacidade ante 29,5% do dia anterior.

O sistema de Rio Claro, que atende a 1,5 milhão de pessoas, foi o que registrou a maior queda percentual: 0,5 –opera com 28,3% de sua capacidade. Outro reservatório que teve queda superior a 0,1 ponto percentual foi o da represa Guarapiranga, que fornece água para 4,9 milhões de pessoas, e opera nesta terça com 31,6% de sua capacidade. 

Matéria originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo

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