Falta de integração com o transporte público reduz as chances de usar as magrelas para circular diariamente pela cidade.
Por Rafael Balago
As grandes cidades que apostaram na bicicleta, como Londres e Nova York, criaram formas de integração entre as magrelas e o transporte público: bicicletários nas estações e permissão para levá-las dentro do metrô. Com isso, é possível ir de bike até a estação mais próxima.
A interação aumenta o número de passageiros e expande a área atendida pelo transporte público, aponta um estudo da Universidade do Sul da Flórida. "O investimento inicial e o custo operacional são mínimos se comparados com o retorno financeiro", destaca Christopher Hagelin, autor da pesquisa.
Em São Paulo, essa relação ainda é pequena, o que complica a vida de quem deseja pedalar no dia a dia.
Segundo a prefeitura, há cerca de 4.600 vagas em bicicletários e paraciclos na cidade, a maioria deles nas estações do metrô e da CPTM. A CET trabalha em uma licitação para instalar mais 20 mil vagas em paraciclos, mas não informou prazos.
Em outubro, foi iniciado um teste, sem data para terminar, com dois ônibus articulados da linha 175T (Santana-Jabaquara). Nos fins de semana, é possível levar duas bicicletas em um espaço reservado dentro do coletivo.
"Essa proposta, desse modo, é voltada apenas para o lazer", avalia André Pasqualini, consultor de mobilidade. "Muitos motoristas desses ônibus [articulados] já deixam os ciclistas entrarem com a bike aos domingos. É questão de conversar."
Para Alexandre Delijaicov, professor da FAU-USP, essa integração precisa ser pensada de forma sistêmica. "No horário de pico, não tem espaço nem para os passageiros nos ônibus de São Paulo", analisa. Ele defende a instalação de bicicletários e cita um exemplo da Holanda. "Lá, as pessoas pedalam até a estação de trem, guardam a bicicleta, embarcam, descem e pegam outra bike, que estava guardada desde o dia anterior, para completar o caminho."
Dentro ou fora
Se o plano da linha 175T der certo, São Paulo será uma das poucas cidades a permitir bikes dentro dos veículos, como é feito em Belo Horizonte. O modelo mais comum em cidades que adotam a prática é o de racks na frente do coletivo, capazes de levar duas ou três magrelas.
Esse tipo foi testado na capital em 2010, mas proibido por uma resolução do Contran (Conselho Nacional de Trânsito), que veta a fixação de objetos na frente dos ônibus. Houve também problemas com ruas estreitas e choques com engates de carros.
A ideia não é unanimidade. Um levantamento de 2005 apontou que dois em cada três ônibus nos EUA eram preparados para receber bikes. Porém, em cidades de grande porte, como Londres, Nova York e Copenhague, apenas bicicletas dobráveis são permitidas nos ônibus.
Nos metrôs estrangeiros, é comum o acesso das bicicletas todos os dias, com restrições no horário de pico –em São Paulo, a catraca é liberada depois das 20h30 e nos finais de semana durante todo o horário de funcionamento. Em Londres, as magrelas são bem-vindas até em uma linha de teleférico.
Matéria originalmente publicada na revista sãopaulo