Medida descartada nos últimos meses foi admitida por novo chefe da estatal da gestão Alckmin; Governador disse que 'racionamento' já existe — em referência à redução de captação no sistema Cantareira.
Por Fabrício Lobel e Rogério Pagnan
A Sabesp admitiu nesta quarta (14) a possibilidade de implantar um rodízio de água em São Paulo –com cortes alternados entre regiões, a exemplo do adotado no começo da década de 2000.
A medida voltou a ser cogitada pela estatal ligada à gestão Geraldo Alckmin (PSDB) após ser descartada como solução para a crise hídrica durante boa parte de 2014.
"Sim, pode chegar [a ter um rodízio]. Torcemos para que não, mas pode chegar", afirmou Jerson Kelman, novo presidente da Sabesp, que também anunciou outras ações que devem agravar a falta de água nas casas.
Ao se referir ao rodízio, Kelman afirmou que "não há necessidade de causar previamente um sofrimento à população" e que ele será implantado apenas caso seja "estritamente necessário".
No começo de 2014, Alckmin chegou a admitir a possibilidade de um rodízio. Depois, passou a descartá-lo. Disse que seria um erro técnico adotá-lo, devido a eventuais danos na rede, além de ser um custo social grande.
O rodízio adotado em parte da Grande SP há uma década e meia era no esquema dois dias com água e um sem.
A Sabesp também disse que reduzirá, para mais lugares e mais horários, a pressão da água enviada às casas –que deixa as torneiras secas em alguns momentos do dia.
A captação no sistema Cantareira –que recebeu só chuvas isoladas nesta quarta– será reduzida de 16 para 13 metros cúbicos por segundo.
O Cantareira, com isso, perde importância e deve ser ultrapassado por Alto Tietê e Guarapiranga pelo volume de água fornecida para abastecer a Grande São Paulo.
Kelman disse que, sem chuvas, ele poderia secar até março –ontem estava em 6,3%. Mas, segundo ele, ainda poderá ser usada a terceira cota do "volume morto" do sistema –água que fica abaixo das tubulações e que precisa passar por bombeamento.
Racionamento
A nova avaliação da Sabesp foi dada no mesmo dia em que Alckmin admitiu que São Paulo já enfrenta um "racionamento" –em referência à exigência de redução de captação no sistema Cantareira, que está em vigor desde março do ano passado.
No dia anterior, a Justiça havia suspendido a cobrança da sobretaxa de até 100% na conta de água para moradores que elevassem seu consumo.
"O racionamento já existe", declarou Alckmin, atribuindo a decisão à ANA (Agência Nacional de Águas), que, em março do ano passado, determinou a redução da captação do sistema Cantareira –ação que vem sendo adotada e já foi até mesmo ampliada desde então.
A partir daí, a Sabesp intensificou a redução de pressão da água –que provoca cortes em regiões mais altas em alguns momentos do dia.
"Se tirávamos 33 metros cúbicos por segundo [de água] e hoje estamos tirando 17, é óbvio que temos uma restrição hídrica", justificou.
Diante das queixas sobre a interrupção no fornecimento de água, ele foi cobrado no período eleitoral para que reconhecesse a situação.
Em 24 de outubro, às vésperas do segundo turno em que Aécio Neves (PSDB) tentava se eleger presidente, Alckmin declarou: "O abastecimento de água está garantido na região metropolitana de São Paulo. Não tem racionamento e não tem desabastecimento".
Matéria originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo