Com 20% das chuvas esperadas, escassez atinge os seis sistemas e saldo fica negativo em 29,3 mil litros/segundo neste mês.
Por Fabio Leite e Rafael Italiani
Com 20% das chuvas esperadas para o mês, os seis mananciais que abastecem 20 milhões de pessoas na Grande São Paulo têm registrado déficit de 2,5 bilhões de litros por dia em pleno período no qual deveriam encher para suprir os meses de seca. Considerando a quantidade de água que entrou nos sistemas e a que foi retirada pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), o saldo fica negativo em 29,3 mil litros por segundo, volume equivalente à captação do Cantareira antes da crise.
O levantamento foi feito pelo Estado com base nos boletins diários dos mananciais divulgados pela Sabesp desde o dia 15. A medida foi uma das ações anunciadas pelo novo presidente da companhia, Jerson Kelman, para dar mais transparência à gestão da crise hídrica paulista. Anteriormente, apenas os dados do Cantareira eram divulgados com detalhes pela Agência Nacional de Águas (ANA).
Os números mostram que nem a redução da pressão da água na rede feita pela Sabesp desde o período da tarde nem a diminuição do consumo pela população têm sido suficientes para estancar a queda dos mananciais. Já são cinco dias seguidos em que todos os seis sistemas acumulam perdas.
Nesta terça-feira, 20, o estoque de água para a Grande São Paulo era de 264,7 bilhões de litros, 12,3% da capacidade, e menos do que as duas cotas do volume morto do Cantareira juntas (283,2 bilhões de litros). Segundo a Sabesp, o volume de água produzido para a Grande São Paulo caiu 25% neste mês em relação a janeiro de 2014, quando a crise foi declarada: de 71 mil litros por segundo para 53 mil. Uma redução significativa, mas incapaz de fazer frente à estiagem severa. Dos 146,8 mil litros por segundo esperados para encher os mananciais neste mês, têm entrado apenas 29,7 mil litros, de acordo com a média da última semana, ou 20% da média.
“É assustador esse cenário. Se considerar que é basicamente o mesmo que o Cantareira fornecia de água, isso quer dizer que se continua tirando muita água de todos os mananciais”, disse Maria Cecília Wey de Brito, secretária-geral da WWF-Brasil, “No momento em que temos um sistema em colapso, com volume morto sendo usado, qualquer diminuição na entrada de água é ir ladeira abaixo”, completou.
Para piorar, a seca no maior manancial está mais aguda. Nesta terça-feira, o Cantareira bateu novo recorde negativo. O sistema registra uma entrada de água de 7,9 mil litros por segundo – 12,6% da média histórica do mês, que é de 62,8 mil. O pior resultado anterior na relação entre a chuva esperada e a registrada era de fevereiro de 2014, com 12,9% da média. Cada mil litros por segundo abastece cerca de 300 mil pessoas.
O presidente da Sabesp disse que vai “fechar ainda mais a torneira” para reduzir a retirada de água dos mananciais e conta com uma terceira cota de 41 bilhões de litros do volume morto do Cantareira.
Interior
Também abastecidas pelo Cantareira, as cidades da bacia do Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ) tiveram queda nas vazões nesta terça-feira e, se estivesse em vigor resolução em estudo pela ANA e o DAEE, entrariam em restrição de abastecimento. A vazão chegou em alguns pontos a 2,3 mil l/s, enquanto o limite seria de 2,5 mil.
Matéria originalmente publicada no jornal O Estado de S. Paulo