Reservatório recebeu 151,1 bilhões de litros a menos de água do que era esperado pela Sabesp, conforme projeção de outubro.
Por Rafael Italiani e Fabio Leite
O Sistema Cantareira recebeu 151,1 bilhões de litros de água a menos do que a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) esperava, levando em consideração o cenário mais pessimista. A pior previsão compara os dias de hoje com 1953, até então o ano mais seco da história do reservatório antes de 2014.
A projeção para o começo da época de estiagem deste ano – que começa no último dia de abril – faz parte de uma expectativa de demanda do reservatório que atende 6,5 milhões de pessoas. O documento foi entregue em outubro de 2014, pela Sabesp, para a Agência Nacional de Águas (ANA).
Nele, a companhia afirma esperar que, caso a situação seja igual a de 1953, haveria um déficit de 50,1 bilhões de litros de água no sistema ao fim de abril. Isso quer dizer que, pela projeção mais pessimista feita à época, o Cantareira não recuperaria tudo o que já havia sido utilizado dos 182,5 bilhões de litros do primeiro volume morto.
Entre outubro e dezembro de 2014, somado ao que já havia sido registrado em janeiro do mesmo ano, entraram apenas 75,2 bilhões de litros de água. Em 1953, a entrada relatada foi de 226,3 bilhões.
Essa diferença de 151,1 bilhões de litros de água, que não entrou nos mananciais que formam o reservatório, representa 15,3% do total do sistema, sem levar em consideração as duas reservas técnicas. Excluindo os volumes mortos dessa conta, que estão abaixo do nível normal de captação de água das represas, o Cantareira está 23,7% no negativo.
A projeção de demanda da companhia também apostava em outros cenários. Caso chovesse 75% da média esperada, o reservatório chegaria ao fim de abril com 148,8 bilhões de litros, recuperando o volume morto utilizado.
Já na previsão mais otimista da empresa, o Cantareira poderia chegar a 369,75 bilhões de litros de água, o que poderia deixar o reservatório em 37,6% da capacidade, já preenchendo o volume morto utilizado. A última vez que o sistema registrou esse número foi no dia 27 de outubro de 2013. Exatos três meses depois, a Sabesp alertou para o início da crise.
Mas a situação é completamente diferente das expectativas da Sabesp. "O que estamos vendo agora é que a situação é pior do que 2013 e 2014. As vazões afluentes estão piores, então é preciso reformatar o voo", disse o diretor metropolitana da Sabesp, Paulo Massato.
Agora, sem as chuvas esperadas no mês de janeiro, que está mais seco do que o mesmo mês de 2014, o governo estadual aposta em usar água da Represa Billings para tentar driblar a crise hídrica na Grande São Paulo. A Sabesp quer ampliar a transferência de água que já é feita para a Represa do Guarapiranga, na zona sul paulistana, através do braço Taquacetuba. No dia 21, um comunicado conjunto elaborado por ANA e Departamento de Águas e Energia Elétrica de São Paulo (DAEE), definiu que o déficit do Sistema Cantareira em janeiro não pode ser superior a 22,9 bilhões de litros.
Queda contínua
A previsão da Sabesp que não se concretizou deixa ainda mais alarmante a situação. O Estado mostrou neste domingo, 25, que, um ano após a crise hídrica, o estoque de água disponível para abastecer 20 milhões de pessoas na Grande São Paulo caiu 74%. Quando a região começou a enfrentar a severa estiagem, a quantidade total de água armazenada em todos os reservatórios da região metropolitana era de 47,3%.
Neste domingo, o Sistema Cantareira registrou a 14.ª queda consecutiva, passando de 5,2% para 5,1% da capacidade total. Já o Alto Tietê, que havia registrado três altas seguidas, ficou estável em 10,4%. O Guarapiranga aumentou de 39,4% para 41,1%.
Matéria originalmente publicada no jornal O Estado de S. Paulo