Por Monique Oliveira e Edílson Dantas
Diferentes moradores de todas as regiões da capital e dos municípios da região metropolitana da Grande SP têm ficado em média, todos os dias, ao menos 14 horas e 20 minutos com menos água nas torneiras.
Apenas na capital do Estado, esse intervalo é ainda maior: 15 horas e 13 minutos.
Todos são "vítimas" da operação que reduz a pressão nas tubulações, principal aposta do governo para economizar água neste momento.
Esses dados foram obtidos através de nova ferramenta no site da Sabesp que permite a consulta sobre os horários em que a redução de pressão é feita bairro a bairro. Na capital paulista, apenas o bairro Parque Anhanguera, na zona norte não tem redução de pressão.
A redução de pressão é a diminuição com que á água é enviada pelas tubulações até as casas e comércios. O objetivo é diminuir a perda de água nas inúmeras falhas da tubulação.
Seu efeito colateral, no entanto, comemorado como economia de água pelo governo, tem deixado diferentes bairros de todas as regiões da Grande SP sem água, principalmente à tarde, à noite e madrugadas.
A operação tem sido intensificada com a atual crise de abastecimento e é, por exemplo, 50% mais eficiente do que o programa de bônus feito pelo governo do Estado para quem economizar água.
Hoje, o maior período de redução da pressão na rede de abastecimento ocorre por 18 horas, em 15 bairros da capital paulista, como São Mateus e Aricanduva, na zona leste, e Sacomã, na zona sul.
O menor período é de sete horas, em São Miguel, bairro da zona leste.
Mesmo com a nova ferramenta, segundo moradores de bairros visitados pela Folha, o horário da falta de água é superior ao mostrado pelo site.
É o caso do Cangaíba, zona leste. Segundo o site, o período diário de redução de pressão é das 13h às 4h.
No bairro, no entanto, moradores e comerciantes informam que a água volta bem mais tarde, às 8h e, em alguns dias, só por volta das 10h.
Moradores relatam que, quando a água volta, ela está sem pressão e, por isso, a caixa-d'água demora a encher.
Há dias, a manicure Eliliane Maria Correia de Moraes, 31, chega ao trabalho às 8h. Segundo ela, no salão, a água começa chegar apenas às 9h, mas só pega pressão às 10h.
Deste horário em diante, Eliliane passa a reservar a água em baldes, já que, a partir das 13h, a torneira sempre volta a secar. "Não dá tempo de fazer quase nada. É só encher o balde pra conseguir fazer o pé de algumas clientes. A mão é só no borrifador."
No salão de beleza de Eliliane ninguém também consegue usar o banheiro.
Também no Cangaíba, na casa do barman Ramilton Almeida, 33, a água só volta às torneiras por volta das 10h.
"Eu chego do trabalho às 2h e nada, tenho que tomar banho com os baldes que eu enchi de manhã. Há uns três meses estou nesta situação."
No posto de saúde do bairro, também falta água no período da manhã. "As crianças vão ao bebedouro e não tem uma gota de água. Eu fiquei com o coração partido. É uma situação muito triste", diz Lucimar Silva Assunção, 51, cozinheira, que foi ao posto tirar uma chapa do pulmão e também não tem água em casa durante o dia.
Matéria originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo