Segundo a Sabesp, Grande São Paulo pode ter racionamento de cinco dias sem água por semana; Estratégia será adotada caso chuvas continuem abaixo da média e outras ações não evitem colapso do reservatório.
Por Fabrício Lobel e Gustavo Uribe
Sem dar detalhes nem uma possível data de início, o governo paulista admitiu que poderá adotar um rodízio "drástico" e "pesado" de água na Grande São Paulo.
A medida, segundo a gestão de Geraldo Alckmin (PSDB), seria uma última opção para evitar o colapso completo do sistema Cantareira, reservatório que atende 6,2 milhões de pessoas na região metropolitana de São Paulo e que ontem operava com 5,1% de sua capacidade.
São Paulo vive hoje a pior crise hídrica da história, e o Cantareira pode secar completamente em março.
Ontem, a informação sobre o rodízio partiu do diretor metropolitano da Sabesp, o engenheiro Paulo Massato. Segundo ele, diante do eventual agravamento da crise, a Grande SP poderá ter, por semana, cinco dias com rodízio.
"Se as chuvas insistirem em não cair no Sistema Cantareira, seria uma solução de um rodízio muito pesado, muito drástico", disse, pela manhã, após evento com a presença do governador Geraldo Alckmin (PSDB).
Procurada ao longo de todo o dia por meio de sua assessoria, a Sabesp não detalhou o plano apresentado pelo diretor da empresa.
Não se sabe, por exemplo, se a ideia de rodízio considera que toda a metrópole fique sem água cinco dias seguidos ou se haverá um esquema de alternância de fornecimento de água entre os bairros.
Na entrevista, o executivo da Sabesp ponderou que esse modelo de rodízio será implementado em SP caso:
1) as chuvas nos mananciais sigam abaixo da média: neste janeiro, a previsão é de que as chuvas no Cantareira fiquem abaixo da média, assim como nos últimos nove meses no reservatório.
2) as obras para ampliar a produção de água não avancem em tempo: a maioria das obras anunciadas até agora tem inauguração prevista entre 2016 e 2018;
3) o plano para aproveitar a poluída reserva da Billings fique inviável: anunciado na última semana por Alckmin, o plano, no entanto, não foi detalhado pelo governo ou pela Sabesp.
Segundo o professor da Unicamp e especialista em hidrologia Antonio Carlos Zuffo, uma possibilidade é a Sabesp dividir a cidade em sete setores. Em cada um deles, o morador terá água por dois dias e, no restante da semana, ficaria sem água.
"É uma medida severa, mas que traduz a realidade do Cantareira. Acabando a água do Cantareira, é a única forma de continuar abastecendo a cidade", disse.
"Resta saber se a medida seria aplicada à toda Grande São Paulo ou apenas à região atendida pelo Cantareira."
Ainda que não tão drástico, essa medida também não seria uma novidade para moradores de São Paulo e de seu entorno.
Em 1985 e 2000, por exemplo, alguns bairros entraram em sistema de rodízio com um dia completo sem água e dois dias seguidos com fornecimento normal.
Um rodízio seria a mais duro medida de Alckmin para enfrentar a crise, após, entre outros pontos, economizar água com a redução da pressão nos encanamentos e adotar a cobrança de uma sobretaxa na conta dos "gastões".
Mesmo durante a severa estiagem de 2014, o tucano, então candidato à reeleição e que acabou eleito no primeiro turno, disse em diferentes oportunidades que SP não corria risco de desabastecimento de água. Disse também que nem teria de submeter Grande São Paulo a esquemas de racionamento ou rodízio.
Hoje, um eventual racionamento teria que ser aprovado e regulado pela Arsesp (agência estadual).
Matéria originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo