Sindicato dos motoristas de ônibus de São Paulo teme que modelo proposto por Haddad provoque demissões; Para MPL, redução da frota pode prejudicar passageiros; já grupo liberal defende o fim das licitações.
Por Felipe Souza
O anúncio de que a gestão Fernando Haddad (PT) vai estatizar as garagens de ônibus e diminuir o número de veículos divide sindicato e movimentos sociais ligados à discussão sobre o transporte.
As medidas foram reveladas pela Folha no final de semana. A proposta da prefeitura é desapropriar as garagens para entregá-las a vencedores de uma licitação, a fim de ampliar a concorrência e reduzir os custos.
O secretário de finanças do sindicato dos motoristas de ônibus, Edvaldo Santiago da Silva, disse que a categoria fará protestos caso as medidas se concretizem.
"Se outras empresas ganharem a licitação, vão nos demitir para contratar outras pessoas", afirma.
Heudes Cássio da Silva Oliveira, representante do MPL (Movimento Passe Livre), também disse ser contra as novas medidas. Ele critica o fato de a nova licitação prever a diminuição em 27% da frota circulante.
"Reduzir o número de ônibus só vai favorecer os empresários. Enquanto eles cortam custos, os passageiros esperam mais no ponto", disse.
Para ele, a oferta de lugares não deve aumentar, mesmo com a circulação de veículos maiores e corredores mais vazios. "O correto seria a prefeitura pagar por ônibus que circula, o que levaria as empresas a colocar mais veículos na rua para atender a população", sugere.
Para Kim Kataguiri, coordenador do Movimento Brasil Livre, que defende o liberalismo, as mudanças não resolvem. "As empresas continuarão precisando de licitações públicas, ou seja, a concorrência continuará limitada pelo Estado, que é sinônimo de ineficiência", diz.
Kataguiri afirmou que a solução é acabar com as licitações e desregulamentar o transporte. "Com o fim das licitações, todo empreendedor que quiser prestar um serviço de transporte poderá atuar no mercado", declara.
Já o presidente da SPUrbanuss (sindicato das empresas de ônibus), Francisco Cristóvão, vê como positivas as ações, mas pondera: "Concordo com a decisão de estimular a competição entre os empresários. Só não pode prejudicar quem presta serviço desde a década de 1940".
Matéria originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo