Por Daniela Lima
Um cada vez mais provável rodízio de água na Grande São Paulo ficará restrito inicialmente à região abastecida pelo Cantareira, sistema responsável pelo atendimento de 6,2 milhões de pessoas.
A decisão ocorreu nesta sexta-feira (6) em reunião no Palácio dos Bandeirantes.
Como antecipou a Folha na quinta-feira (5), esse plano vinha ganhando força entre integrantes da administração estadual e da Sabesp que participam do grupo que prepara o plano de contingência da crise hídrica.
De acordo com pessoas próximas ao governador Geraldo Alckmin (PSDB), a intenção é minimizar ao máximo os efeitos de um rodízio na rotina da população, por isso a opção inicial por adotá-lo apenas em um dos seis sistemas que fornecem água para a região metropolitana.
A estratégia é aplacar o incômodo e o consequente desgaste político que a adoção de um rodízio teria na imagem do governador.
O Cantareira atende moradores da zona norte e em partes das zonas leste, oeste, central e sul da capital. Hoje o sistema opera com a segunda cota do volume morto –água abaixo do nível original de captação do reservatório.
Acompanhamento
Alckmin tem participado pessoalmente das discussões sobre o tema.
O governo tem feito pesquisas em que vem monitorando não só a frequência com que falta água em algumas residências, como também a percepção da população sobre a crise.
Os números mostram que, apesar da sensação generalizada de que há um racionamento oficioso –causada pela redução da pressão na rede, o que causa interrupções pontuais no abastecimento–, a maioria da população de São Paulo relata ainda não ter ficado com as torneiras secas.
Próximo passo
Apesar de as principais linhas do plano de contingência já terem sido definidas, o governo e a Sabesp decidiram continuar monitorando a situação dos sistemas.
A adoção de um rodízio continua sendo tratada pelo governo como um "próximo passo" a ser tomado, caso a situação se agrave.
Com dois dias chuvosos em seguida, a capacidade dos seis principais reservatórios que abastecem a região metropolitana subiu.
O Cantareira é o que mais tem se beneficiado com essas chuvas dos últimos dias. Até agora, o sistema acumula 80,1 mm de água em fevereiro –o que corresponde a 40,25% do volume esperado para todo o mês (199,1 mm).
De acordo com o boletim divulgado pela Sabesp, o sistema, que chegou a operar com 4,9% de sua capacidade há algumas semanas, registrou nesta sexta 5,4% –0,2 ponto percentual a mais que no dia anterior.
O aumento das chuvas e a proximidade de um feriado prolongado, o Carnaval, diminuiu a ansiedade entre o corpo técnico sobre a urgência em decretar o rodízio.
Com a melhora do regime de chuvas e a cidade mais vazia nos próximos dias, a expectativa é que o Cantareira "ganhe um fôlego" com a manutenção da política de redução de pressão na rede.
Essa estratégia tem deixado diferentes bairros, principalmente da periferia, com menos água nas torneiras. Os mais altos e distantes dos sistemas são os mais afetados.
O governo precisa reduzir a captação no Cantareira em ao menos mais 5.000 litros por segundo para que ele sobreviva à estação seca, a partir de maio. Hoje, com todas as medidas de contenção já implementadas, são retirados 18,5 mil litros.
Matéria originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo