Sem redutores de pressão, Sabesp já corta água durante o dia de 40% da rede

Manobra é feita manualmente na rua por técnicos da empresa nas regiões onde não existem válvulas redutoras e deixa parte da tubulação despressurizada; pela norma técnica, a pressão deve oscilar entre 10 e 50 metros de coluna d’água.

Por Fabio Leite

A Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) já fecha o registro de 40% da rede de distribuição de água da Grande São Paulo. A manobra é feita manualmente na rua por técnicos da empresa nas regiões onde não há válvulas redutoras de pressão (VRPs) instaladas, e deixa parte da tubulação despressurizada, provocando cortes no abastecimento.

O fechamento completo das redes em vários pontos da Grande São Paulo foi informado ao Estado por dois funcionários da Sabesp responsáveis pela manobra e confirmado por um integrante do alto escalão da empresa. “Nós temos 60% da rede da Região Metropolitana controlada pelas VRPs. Sobram 40% da rede. Nessas áreas, nós precisamos fazer as manobras na rua. Não tem jeito. Uma parte da cidade acaba sendo fechada”, disse o dirigente.

Um dos locais afetados fica perto do cruzamento das Ruas Parapuã e Tiro ao Pombo, na Brasilândia, zona norte. “Todo dia, vai uma equipe nossa lá, por volta das 13h, fechar a válvula. Não é redução de pressão. A gente fecha mesmo, e só abre no dia seguinte”, disse um dos funcionários, conhecidos como manobristas, que dizem ser hostilizados por moradores. A Brasilândia é abastecida pelo Cantareira, que estava nesta sexta-feira, 6, em 5,4%. 

Em seu site, a Sabesp informa que o bairro é afetado pela redução da pressão. Segundo a empresa, a medida é praticada na região entre 13h e 5h, horário que coincide com o período em que os manobristas afirmam fechar completamente a rede. 

Pressão

Revelada pelo Estado em abril de 2014, a redução da pressão é responsável por mais de 50% da economia de água obtida durante a crise hídrica, segundo a Sabesp. São 1,5 mil VRPs que auxiliam a reduzir as perdas por vazamentos. A medida foi intensificada em meadas do ano passado. Até o início deste ano, as regiões afetadas eram omitidas pela empresa.

Os equipamentos são acionados remotamente de uma central de comando da Sabesp, que pode controlar a pressão da água nos bairros. Pela norma técnica, ela deve oscilar entre 10 e 50 metros de coluna d’água, o que indica a altura que a água alcança só com pressão da rede. Mas, como em 40% essa operação não pode ser feita, a Sabesp passou a fechar os registros. 

Segundo o dirigente ouvido pelo Estado, nesses locais as regiões mais altas podem ficar com a rede despressurizada e em alguns pontos a água atinge entre 1 e 2 metros de coluna d’água. “Nesse tempo que você fecha, a maior parte da rede ainda fica com água, não esvazia totalmente e, quando você abre, ela se restabelece rapidamente. Agora, quando o consumo é maior, acaba despressurizando pontos mais altos.”

Em outubro, em depoimento na CPI da Sabesp na Câmara, a ex-presidente da companhia Dilma Pena disse que a empresa considera racionamento apenas quando a rede de distribuição está sem pressão, fato que ela negou ocorrer à época.

A Sabesp afirma, em nota, que “lamenta o fato de ter sido acionada pelo jornal às 21h52 para esclarecer um assunto dessa importância para um real esclarecimento da população. Isso posto, a empresa afirma que parte da gestão da demanda é feita por VRPs e parte por manobras manuais”. A Sabesp diz ainda que “a pressão na rede é mantida. Apenas nas áreas mais altas é que há problemas no abastecimento por conta desta gestão de demanda.”

Matéria originalmente publicada no jornal O Estado de S. Paulo

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