Por Fabrício Lobel e Gustavo Uribe
Ao menos 5 milhões de pessoas ficarão com as torneiras secas caso o governo paulista implemente um eventual rodízio de água apenas na área atendida exclusivamente pelo sistema Cantareira.
Nos últimos meses, com o agravamento da crise hídrica na Grande São Paulo, a Sabesp conseguiu reduzir o total de "clientes exclusivos" do Cantareira de 9 milhões para os atuais 6,2 milhões.
Isso ocorreu com o avanço de água de outros mananciais para a região do Cantareira.
Por exemplo: moradores do extremo leste de São Paulo, antes abastecidos pelo Cantareira, passaram a receber água do sistema Alto Tietê.
Esse tipo de operação reduziu a demanda do Cantareira, o principal sistema da Grande São Paulo e hoje aquele com a situação mais crítica.
Agora, neste ano, a Sabesp acredita que possa reduzir ainda mais a demanda do sistema. Mesmo assim, cerca de 5 milhões de pessoas seguiriam com suas torneiras 100% dependentes do Cantareira.
E é esse grupo de moradores, principalmente da zona norte da capital, que pode ser afetado em eventual rodízio.
No bairro de Perus, por exemplo, a cabeleireira Rosemeire da Conceição, 42, afirma que, mesmo sem a definição de rodízio, a população já convive com torneira seca.
Segundo ela, o bairro enfrenta desde o final do ano passado intervalos de dois dias com água e um dia sem.
"A gente já passa por um rodízio. Agora, por exemplo, não tem água na torneira."
Com a falta de água, ela tem adotado estratégias de economia em seu salão de beleza. A água usada para amolecer a cutícula das mãos e dos pés de suas clientes é reaproveitada para lavar o chão.
"Algumas clientes têm vindo com o cabelo lavado para evitar gastos", afirmou.
Jogo de Xadrez
Para reduzir a área hoje dependente do Cantareira, técnicos da Sabesp falam em basicamente um "jogo de xadrez", que envolve remanejamento de água entre adutoras de sistemas para que as "sobras" possam ser empurradas para áreas do Cantareira.
O primeiro passo é fazer com que o sistema Alto Tietê passe a atender quase toda a zona leste de São Paulo e parte da cidade de Guarulhos, passando ainda pela Vila Maria, na zona norte.
Outro ponto é conseguir que o sistema Rio Claro, que hoje abastece parte do ABC e da zona leste, avance sobre os bairros da Mooca (zona leste) e do Brás (no centro).
A última etapa desse projeto é fazer com que o sistema Guarapiranga, na zona sul, alcance o centro da cidade. Para isso, o Guarapiranga teria que ser ajudado com água do sistema Rio Grande.
Quanto mais essas manobras avançam, mais cai a força da água, já que a origem (reservatórios da Sabesp) está cada vez mais longe do destino (residências).
Um dos planos na mesa do governo Geraldo Alckmin (PSDB) é adotar um rodízio apenas na área dependente do Cantareira, já que os outros cinco sistemas da Grande SP não estão tão próximos de um colapso completo.
Esse é o plano majoritário no governo, mas há auxiliares do tucano que defendem uma medida em toda a cidade, para evitar o "privilégio" a alguns bairros ou cidades.
Um rodízio imediato perdeu força com as chuvas de fevereiro, como a Folha mostrou nesta quarta (11), mas o governo já iniciou obras para se preparar para a eventual adoção da medida, como ligar adutoras direto a hospitais.
Matéria originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo