Programa criado na gestão Kassab prevê que troncos, galhos e folhas sejam reaproveitados como adubo ou matéria-prima. Prefeitura diz que criou duas centrais de triagem e planeja oito novas áreas de compostagem até 2016.
Por FELIPE SOUZA – Folha de S. Paulo
A gestão do prefeito Fernando Haddad (PT) descumpre uma lei municipal que determina o reaproveitamento de árvores podadas, removidas e que despencam às centenas por causa das chuvas.
Uma lei de 2008, que criou o Pampa (Programa de Aproveitamento de Madeira de Podas de Árvores), prevê transformar árvores como as 15 caídas nesta quarta (18) em adubo, matéria-prima para artesãos, móveis e outros objetos para escolas e comércios.
Hoje, porém, a maioria das árvores são levadas a um aterro sanitário. A gestão Haddad atribui a dificuldade em cumprir a lei a uma herança da gestão Gilberto Kassab (2008-2012), atual ministro das Cidades pelo PSD.
A prefeitura diz que "nada foi feito" na época, enquanto a atual gestão implantou duas centrais de triagem de resíduos em cerca de dois anos.
Kassab diz que o Pampa foi adotado "de forma experimental" em 2008 em ao menos três subprefeituras.
BAIXO APROVEITAMENTO
Em 2014, por exemplo, a subprefeitura da Lapa (zona oeste), que possui triturador para transformar galhos e folhas em adubo, podou 4.800 árvores e removeu outras 850. Porém, apenas cerca de 10% do volume recolhido na região foi reaproveitado.
O engenheiro agrônomo responsável pela subprefeitura da Lapa, Rafael Golin Galvão, 34, disse que está em busca de comerciantes e instituições para destinar os troncos maiores, de madeira nobre. "Queremos dar uma função social para nossas árvores", afirmou.
Golin diz que qualquer pessoa pode retirar pequenas quantidades desses materiais na subprefeitura da Lapa.
O vereador Gilberto Natalini (PV) entrou com uma representação para que o Ministério Público investigue o reaproveitamento de árvores. "Está ocorrendo um crime ambiental", afirmou.
De acordo com o vereador, só 11 das 32 subprefeituras confirmaram ter o triturador. O município fala em 28.
Até ontem (18/2), foram contabilizadas 1.800 quedas de árvores desde o início do ano. A média da cidade é de 2.000 a cada 12 meses.
USO NOBRE
Para o botânico Ricardo Cardim, o triturador é o uso menos nobre que as árvores podem ter. "O correto seria a prefeitura criar uma serraria municipal para tratar e revender madeira." Ele afirma que todas as árvores poderiam ser reaproveitadas.
"Imagine quantos eucaliptos seriam poupados apenas com a simples medida de fornecer lenha para pizzarias."
A prefeitura prevê oito novas áreas de compostagem até 2016, com capacidade para processar 50 toneladas por dia cada uma. As duas primeiras devem ser entregues em 2015.
Matéria publicada originalmente na Folha de S. Paulo.