Sabesp usará bombas gigantes para fazer a transferência de água; objetivo é ampliar opções para evitar rodízio. Governo paulista afirma que é possível tratar essa água contaminada que será tirada da represa.
Por FABRÍCIO LOBEL – Folha de S. Paulo.
Para ampliar o processo de interligação entre os mananciais na corrida contra um eventual rodízio, o governo paulista irá transferir a poluída água da represa Billings para o sistema Rio Grande, hoje a maior reserva potável na Grande São Paulo.
Para isso, contará com três bombas gigantes iguais às que são utilizadas para captação do volume morto (reserva de água existente no fundo das represas) do sistema Cantareira.
A obra de conexão entre os dois reservatórios será feita em ritmo de urgência –eles são separados pela rodovia Anchieta, que liga a capital ao litoral sul.
POLUIÇÃO DA ÁGUA
Hoje, quem passa pela estrada no sentido litoral consegue identificar a diferença de cor das duas represas.
No lado esquerdo, a água do sistema Rio Grande, mesmo com cor mais escura, é de melhor qualidade.
No lado direito, a represa Billings tem coloração esverdeada, culpa da alta proliferação de cianobactérias –microrganismos que se proliferam na presença de material orgânico em decomposição.
Entre as duas represas há, desde a década de 80, uma barragem de 400 metros, justamente para evitar que as águas poluídas da Billings entrassem no rio Grande.
A água transferida da represa será diluída no rio Grande. Com isso, será possível aumentar a oferta de água para a Grande São Paulo, que enfrenta sua maior crise de abastecimento.
Parte dessa água poderá ser levada a um outro manancial, o Alto Tietê, por meio de 11 km de adutoras.
Aproveitar a água da Billings é uma das saídas escolhidas pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB) para tentar conter a crise. O tucano chegou a se referir à Billings como a grande "caixa-d'água" de São Paulo.
A captação na represa, no entanto, sempre esbarrou na alta dificuldade de distribuir sua água e na alta concentração de poluentes.
Análise feita a pedido da Folha pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul apontou uma concentração de coliformes fecais cem vezes maior do que o estabelecido pelo Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente).
Foram encontradas também bactérias que causam gastroenterite, infecção urinária, diarreias com sangue e até perfuração do intestino.
Estudos da USP apontaram ainda a presença na água de metais pesados como chumbo, cobre e níquel.
BARREIRA
Em 1982, a Sabesp, empresa de água do Estado, construiu uma barragem para preservar da poluição a água que chega à estação de tratamento do rio Grande.
Segundo documento da própria Sabesp, na época, a obra seria necessária para evitar "o fluxo da água poluída do corpo central da Billings ameaçando atingir a captação de água no rio Grande em períodos de estiagem".
Atualmente a Sabesp afirma ter capacidade para tratar essa água da Billings.
Matéria publicada originalmente na Folha de S. Paulo.