Por Fabrício Lobel
Para aliviar os efeitos da mais grave crise hídrica da Grande São Paulo, o governo paulista quer que a água do poluído rio Pinheiros percorra um trajeto equivalente ao de duas maratonas.
Nesse caminho de 85 km, a água que sairá do Pinheiros circulará por três represas, um rio e uma adutora, num ciclo inédito por até cinco municípios até chegar às torneiras da zona norte da capital.
Essa "viagem" da água faz parte da corrida do governo Geraldo Alckmin (PSDB) para interligar mananciais, socorrer as regiões mais afetadas pela seca e evitar a implementação de um rodízio.
A primeira etapa começa na usina de Pedreira, no extremo sul do rio Pinheiros.
Há décadas, a usina libera água do rio para a represa Billings. No entanto, após o Pinheiros se tornar uma verdadeira vala de esgoto da cidade, essa liberação passou a ocorrer somente para evitar o transbordamento do rio.
Essa água, praticamente esgoto puro, acaba por aumentar o nível da Billings. Diante do agravamento da crise hídrica, essa operação tem ocorrido diversas vezes neste ano.
A Folha solicitou mais de uma vez ao governo do Estado o volume dessa manobra e a quantidade de vezes em que ela foi feita. Os questionamentos nunca foram respondidos.
Barreira e tratamento
Se, da usina de Pedreira, seguir ao sul e depois a leste, num percurso de 20 km, a água encontra uma barreira física –uma barragem ao lado da Anchieta, rodovia que liga São Paulo ao litoral sul.
A construção foi feita em 1982 pela Sabesp com o objetivo de garantir que a água poluída da Billings não se misturasse com o rio Grande, que abastece o ABC paulista.
Aí entra a primeira intervenção proposta pelo governo. Como a Folha revelou na sexta (20), a água poluída da Billings será bombeada para superar a barragem feita para separar as duas represas.
Ultrapassada a Anchieta, a água ali passa a ser diluída.
Parte dela será captada e tratada no sistema Rio Grande, que abastece o ABC. Outra parte poderá alcançar o extremo oposto da represa.
De lá, segundo projeto do governo, será enviada por duas tubulações ao longo de 11 km, passando por Ribeirão Pires e Suzano, já no sistema Alto Tietê, no extremo leste da Grande SP, onde será tratada.
Com mais volume, o Alto Tietê poderá avançar para áreas hoje atendidas pelo Cantareira, como a zona norte da capital, na última etapa da corrida da água.
Matéria originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo