Com ‘canetada’, Haddad expande matrículas sem aumentar creche

Por Fábio Takahashi

Uma medida administrativa da gestão Fernando Haddad (PT) permitiu o aumento de crianças atendidas no ensino infantil municipal neste ano, com praticamente a mesma estrutura.

A prefeitura fez com que parte das crianças pulasse uma etapa (popularmente conhecida como série), para ser acomodada em turmas em que a legislação permite mais alunos no mesmo espaço.

Com a manobra, o número de alunos atendidos cresceu 10% em um ano, enquanto a quantidade de turmas subiu apenas 6% no período.

Educadores reclamam de que as crianças estão despreparadas para a etapa em que foram matriculadas.

Segundo a Folha apurou, até auxiliares do prefeito discordam da mudança feita pela Secretaria de Educação, por entenderem que foi tomada sem a devida preparação.

Oficialmente, a gestão defende a regra, feita pelo ex-secretário Cesar Callegari, substituído por Gabriel Chalita.

A administração municipal enfrenta demanda por vagas em creches cada vez maior. O último dado divulgado, de novembro, apontou a maior fila já registrada: 188 mil crianças à espera de uma vaga, ante 228 mil matriculadas nas creches. A gestão Haddad prometeu 150 mil vagas até o fim de seu mandato, em 2016, mas chegou à metade do mandato com 42 mil entregues.

A prefeitura diz que a demanda aumenta justamente por causa da expansão da rede –quando é inaugurada uma unidade onde não havia vagas, muitas famílias passam a integrar a fila.

Manobra

O aumento de matrículas foi obtido com a combinação de alteração da idade dos alunos para cada etapa das creches e da distribuição dessas etapas dentro das unidades.

Neste ano, foram abertas mais turmas do minigrupo 2, último estágio das creches, no qual a legislação permite até 25 crianças por turma. Na etapa anterior, são 12.

O minigrupo 2 cresceu 21% desde o ano passado. O minigrupo 1 diminuiu 1%.

A distribuição das etapas nas unidades é definida anualmente.

O maior número de vagas preenchidas na última etapa da creche foi abastecido com crianças mais novas, que pela regra antiga estariam na fase anterior (minigrupo 1).

Em outras etapas do ensino infantil também houve crianças que saltaram etapa –quanto mais avançada a "série", mais alunos podem ser alocados em cada turma, segundo a norma municipal.

Uma professora na Capela do Socorro (zona sul) diz que as crianças com menos de três anos que foram direto para o minigrupo 2 não entendem as atividades. "Faço roda de histórias, e elas não ficam. E precisam de ajuda para irem ao banheiro. Não consigo dar conta, são muitos."

Uma diretora na zona sul reclama de que crianças com menos de dois anos tenham ido direto ao minigrupo 1, onde a faixa etária fica perto dos três anos. "Elas deveriam ter sido desfraldadas. Agora estão com crianças grandes, em salas sem fraldários."

Para o presidente do Sinesp (sindicato dos diretores municipais), João de Souza, a mudança foi feita "sem nenhum planejamento". 

Matéria originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo

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