Câmara Municipal de São Paulo fará homenagem a Jorge Wilheim in memorian

O arquiteto e urbanista era integrante do colegiado de apoio da Rede Nossa São Paulo. Solenidade será realizada na próxima terça-feira (10/3). Confira o convite abaixo:  

 

Jorge Wilheim nasceu em 1928, na cidade italiana de Trieste e aos 12 anos mudou com a família para o Brasil. Faleceu em fevereiro de 2014, aos 85 anos, 60 dos quais dedicados à arquitetura, ao urbanismo, à administração pública, à produção intelectual e às artes. "Um homem que pensa a cidade”, Wilheim se destaca como um dos mais importantes e visionários urbanistas brasileiros. Por mais de seis décadas, seu profundo conhecimento sobre a dinâmica urbana se transformou em soluções vibrantes e inovadoras em prol da qualidade de vida nas metrópoles em desenvolvimento. 

Com a contribuição da família e de amigos, seu pensamento permanecerá vivo e pulsante neste website dedicado ao seu legado, para que continue a inspirar as novas gerações e a busca por cidades mais humanas, justas e criativas.

O arquiteto e urbanista

Wilheim é responsável por um legado inestimável de emblemáticas obras e conceitos, entre os quais vários cartões postais paulistanos, como o Parque Anhembi (1967-73) e os projetos de reurbanização do Vale do Anhangabaú (1981-91) e do Pátio do Colégio, sítio da fundação de São Paulo (1975).

Da sua prancheta também saíram os projetos de muitas das referências arquitetônicas e urbanas que conhecemos, tais como: a sede do Clube Hebraica (1961), o TAIB – Teatro de Arte Israelita-Brasileiro (1961), o Serviço Social das Indústrias (Sesi) – Vila Leopoldina (1974), a sede da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (1975), o centro de diagnósticos do Hospital Albert Einstein (1978/85), a Galeria Ouro Fino, o Shopping Center 3 (1961), diversas escolas profissionais para o SENAC, e muitos outros.

Como um dos renovadores da urbanística no País, Wilheim sempre teve distinta atuação profissional, ocupando diversos cargos e funções no Instituto dos Arquitetos do Brasil. Por trabalhos profissionais, recebeu os prêmios "Tarsila do Amaral" (1956), "Governador do Estado" (1964), "IAB de Urbanismo" (1965 e 67), "IAB para Ensaio" (1965 e 67), “Pensador de Cidades Luiz Antonio Pompéia” (2010) e a Ordem do Mérito de Brasília (1985).​

O planejador

Na década de 1950, recém-formado arquiteto pela Faculdade de Arquitetura da Universidade Presbiteriana Mackenzie, enfrentou o desafio de projetar uma nova cidade para 15 mil pessoas no Mato Grosso, com a finalidade de desenvolver a região. Assim nasceu sua precoce consciência ecológica e Angélica, cidade modelo em planejamento urbano. Em 1956, participou do concurso para o plano-piloto de Brasília, na mesma licitação que elegeu o projeto de Lucio Costa.

Expressivo formulador do chamado “planejamento estratégico” no Brasil, conceito criado pelos teóricos Manuel Castells e Jordi Borja, uma de suas contribuições pioneiras foi a criação dos Planos Diretores. Profundo conhecedor de muitas cidades, foi responsável por mais de vinte planos urbanísticos, destacando-se os de Curitiba, Goiânia, Natal, São Paulo, Campinas e São José dos Campos entre dezenas de outras cidades.

O homem público

No campo político, sua atuação é marcante e teve importante atuação no processo de redemocratização do País. Wilheim ocupou diversos cargos públicos e institucionais com o intuito de melhorar forma como as pessoas se relacionam com as cidades, guiado pela concepção de que a participação social é indispensável para o urbanismo. Foi Secretário de Economia e Planejamento do Estado de São Paulo (1975-79); duas vezes Secretário de Planejamento da capital paulista (1983-1985 e 2001-2004); Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo (1987-1990); além de presidente da Emplasa, Empresa Metropolitana de Planejamento da Grande São Paulo (1991-1994). 

Suas principais marcas no Governo do Estado de São Paulo foram a criação do PROCON, da Fundação SEADE, da EMTU, e do “Passe do Trabalhador”, hoje conhecido como Vale Transporte. No comando da Emplasa elaborou o primeiro Plano Metropolitano da macrometrópole paulista. Como Secretário de Planejamento do Município de São Paulo, criou o pioneiro Passe do Idoso, o Cadastro Cultural das Referências Urbanas, o Conselho de Política Urbana, o Fundurb, o Plano Diretor Estratégico e os 31 Planos Estratégicos das Sub-Prefeituras de São Paulo.

Questões ambientais

Wilheim esteve à frente de seu tempo em muitas ações e ideias, com especial afinidade por temas relacionados ao meio ambiente. Ainda na esfera pública, organizou a Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo (a primeira do Brasil) e, durante sua gestão, estruturou o órgão que compreendeu a CETESB, a Fundação Florestal, três institutos de pesquisa (Florestal, Botânico e Geológico) e a Polícia Florestal. Também implantou a primeira utilização oficial de álcool combustível no País, programa que seria conhecido mais tarde como PróAlcool. Em 1981, Wilheim realizou aquele que provavelmente foi o primeiro estudo de impacto ambiental no País, para a Alcoa, na cidade de São Luiz do Maranhão.

Contribuições internacionais

Wilheim teve intensa carreira internacional e recebeu inúmeros convites para aplicar suas ideias de vanguarda em escala global. Destacou-se como Secretário Geral Adjunto da divisão da ONU para a realização da Conferência Global sobre Assentamentos Humanos – Habitat 2, na organização do grande encontro com quase duzentos países representados em Istambul (1996); participou das reuniões preparatórias da Conferência de Estocolmo (Suécia); e foi, durante anos, o representante brasileiro na Comissão de Urbanismo da União Internacional dos Arquitetos, órgão assessor da UNESCO. Também foi professor convidado na Universidade de Buenos Aires, na Universidade de Barcelona, ocupou a cátedra Rio Branco na Universidade da Califórnia – Berkeley, nos Estados Unidos, e proferiu dezenas de conferências no exterior.

O intelectual

Articulista frequente dos principais jornais e revistas do País, Wilheim escreveu 10 livros sobre vida urbana, publicados por diferentes editoras de São Paulo, Buenos Aires e Londres. Sua obra mais recente é São Paulo: uma interpretação (Editora SENAC), premiada pela Academia Paulista de História na categoria Melhor Livro Publicado em 2011 sobre São Paulo.

A natureza diversificada das atividades que Wilheim exerceu ao longo da vida não o levou a seguir uma carreira acadêmica tradicional, mas, por outro lado, o aproximou de muitas experiências transversais de conhecimento. Organizou e participou de dezenas de seminários, congressos, cursos e palestras sobre planejamento e urbanismo em instituições nacionais e internacionais, como o Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA/ USP), a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), o Massachussets Institute of Technology (MIT), o Conselho Latinoamericano de Ciências Sociais (CLACSO) e a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), entre outras entidades.

Jorge Wilheim se destaca ainda pela participação ativa no mundo das artes plásticas. Trabalhando junto com Pietro Maria Bardi, participou da montagem do MASP, foi Presidente da Fundação Bienal de São Paulo e membro de inúmeras fundações, museus e instituições de artes plásticas no País.

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