Árvores ficam no lugar do que seria o canteiro central, demarcado apenas por uma pintura de sinalização na via.
Por Juliana Diógenes
Após as faixas exclusivas de ônibus e as ciclovias, o prefeito Fernando Haddad (PT) iniciou nova intervenção polêmica nas ruas de São Paulo: plantar árvores no meio das vias, separando sentidos. A Prefeitura instalou 70 mudas de ipês-amarelos em buracos abertos no meio do asfalto em uma avenida da Cidade Patriarca, na zona leste da capital.
As árvores ficam no lugar do que seria o canteiro central, demarcado apenas por uma pintura de sinalização na via. A Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) ficou responsável pela supervisão do local. O projeto-piloto Árvore no Asfalto foi implementado na Avenida Patrocínio Paulista. Com a iniciativa, Haddad pretende ampliar a arborização sem afetar a fiação elétrica aérea e a passagem de pedestres nas calçadas.
Para o engenheiro e professor da Faculdade de Engenharia Industrial (FEI) Creso Franco Peixoto, porém, esse tipo de projeto não é comum em vias públicas. “Não se planta árvore desse jeito em avenidas.” Peixoto já sugeriu melhorias, como a implementação de guarda-corpos de concreto e meio-fio elevado para marcar a via. “A velocidade em avenidas é acima de 40 km/h. Se um veículo menor bater na árvore, o impacto tende a ser grande. A avenida em questão desce, sobe e faz curva. Esses são os locais em que mais acontecem derrapagens e fecham a visão do motorista.”
De acordo com a Prefeitura, as espécies plantadas são de médio a grande porte, com raízes pivotantes, que penetram verticalmente, com uma raiz principal maior que as demais e, portanto, não se espalham lateralmente. A intenção é evitar a deformação do pavimento futuramente. “O plantio no asfalto é uma alternativa para deixar a cidade mais verde. Na Europa e no Canadá há projetos de plantio muito semelhantes”, explicou o titular da Secretaria do Verde e Meio Ambiente, Wanderley Meira do Nascimento.
Justificativa
“As árvores ocupam um espaço precioso da calçada, sobretudo se você pensar no cadeirante, que acaba podendo ficar prejudicado pela estreiteza das calçadas”, justificou Haddad. Sobre a relação entre a fiação e as árvores, ele lembrou dos ventos fortes de 96 km/h que, em 29 de dezembro, que derrubaram cerca de 300 árvores no Município e afetaram o fornecimento de energia.
Segundo Haddad, São Paulo tem menos de 1 milhão de árvores em vias públicas, o que considera “muito pouco”. A maior parte está concentrada em áreas de proteção e, portanto, mal distribuída na cidade.
A possibilidade de estender o projeto para outros bairros está em avaliação. A Prefeitura pretende testar metodologias de plantio ao longo do semestre, com o objetivo de lançar um plano de reflorestamento.
No Programa de Metas 2013-2016, a Prefeitura promete o plantio de 900 mil mudas em passeios públicos e canteiros centrais.
Matéria originalmente publicada no jornal O Estado de S. Paulo