Governador disse que pediria à Anvisa autorização especial para usar o medicamento; capital paulista tem 3ª morte confirmada.
Por Fabiana Cambricoli e José Tomazela
O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), quer que o Instituto Butantã antecipe a produção em escala da vacina contra a dengue. Alckmin afirmou na quinta-feira, 19, que pediria à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorização especial para usar a vacina que ainda está em fase de testes, levando em conta a alta incidência da doença no Estado.
Em menos de três meses, já são 67 mortes por complicações da doença neste ano no Estado. Em todo o ano passado, foram 90. Nesta sexta, o Instituto Adolfo Lutz confirmou a terceira morte por dengue na capital paulista. A vítima é um homem de 35 anos, morador do bairro Pedreira, na zona sul.
De janeiro até 12 de março, a cidade contabilizou 2.339 casos confirmados de dengue, de acordo com dados da Secretaria Estadual da Saúde. A secretaria informou que 66% dos mais de 56 mil casos confirmados no Estado neste ano estão concentrados em apenas 30 dos 645 municípios paulistas.
Trâmite
Em condições normais, seguindo todos os protocolos de biossegurança, a vacina só estaria pronta para ser usada na população no início de 2018. De acordo com o instituto, os testes em voluntários foram iniciados em 2013, com autorização da Anvisa. Atualmente, é realizada a segunda fase dos testes, envolvendo 300 voluntários que são atendidos pelo Hospital das Clínicas de São Paulo. Cerca de 160 já receberam a vacina e outros 140 estão sendo recrutados. Essa fase deve terminar em 60 dias. Nela, é avaliada a segurança e a imunogenicidade da vacina.
Falta ainda a terceira etapa, com voluntários de todas as regiões do Brasil e de diferentes faixas etárias. Nessa fase, os testes, que foram iniciados em 2013 e, em condições normais, deveriam se estender até 2018, avaliam a eficácia da vacina.
O Butantã informou que o período de cinco anos é necessário para verificar anualmente a resposta imunológica dos participantes. O imunizante é desenvolvido em parceria com o National Institutes of Health, dos Estados Unidos. A vacina americana, similar à brasileira, foi testada naquele país e ficou demonstrado que é segura, segundo o instituto.
Existe outra vacina no mercado, da francesa Sanofi. A empresa divulgou, em novembro de 2014, resultados de testes realizados com mais de 20 mil crianças e adolescentes da América Latina, inclusive do Brasil, segundo os quais foi capaz de prevenir, em média, 61% dos casos comuns de dengue e 95,5% dos casos graves. O nível de proteção variou conforme o tipo de dengue, e foi mais eficaz para o tipo 4. A empresa deve enviar os documentos para registro na Anvisa ainda neste semestre.
A previsão é de que essa vacina possa ser usada na população no início de 2016. Para ser eficaz, deve ser aplicada em três doses, em intervalos de seis meses.
Uso imediato
A infectologista Rosana Paiva dos Anjos, pesquisadora e docente da Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP), defende o uso imediato da vacina em razão da gravidade da dengue, que já está produzindo mortes em todo o Estado. “Pelos testes já feitos, a vacina não tem mostrado efeitos colaterais importantes e tem a vantagem de dar proteção aos quatro tipos de vírus.”
A direção do Butantã confirmou nesta sexta que pedirá a antecipação do uso da vacina e que dispõe de 13 mil doses. Em nota, a Anvisa informou que não recebeu até esta sexta pedido de registro. “Cumpre destacar que vacinas com esta finalidade estão, atualmente, em fase de testes pelos laboratórios que as vêm desenvolvendo.” Ainda segundo a Anvisa, a viabilidade do uso excepcional da vacina terá de ser avaliada após o recebimento da solicitação.
Matéria originalmente publicada no jornal O Estado de S. Paulo