Manifestantes marcham contra falta d’água em São Paulo

Coletivo de movimentos sociais e sindicatos protesta contra a falta d’água, as demissões na Sabesp e propõe medidas emergenciais

Por Rafael Tatemoto do “Brasil de Fato”, especial para #JornalistasLivres

A chuvarada que desabou sobre os 500 manifestantes que protestavam contra a falta d’água na sexta-feira (20/3), na avenida Paulista, só serviu para realçar o surrealismo da situação vivida pela cidade de São Paulo. Pois não é de seca que se trata. Se hoje milhões de pessoas estão sendo afetadas pelas interrupções cruéis do fornecimento de água da Sabesp, não é culpa de São Pedro. Trata-se de mais uma evidência da forma irresponsável como o PSDB de São Paulo, que administra o Estado há 20 anos, conduz os negócios que envolvem os bens essenciais à vida.

“Hoje protestamos e denunciamos ao conjunto da população o caos em relação ao abastecimento de água provocado pela negligência do governador, que sabia desde os anos 2000 que, se nada fosse feito, mais cedo ou mais tarde, o sistema entraria em colapso”, disse Edson Aparecido da Silva, da Federação Nacional dos Urbanitários (FNU), uma das entidades que compõem o Coletivo de Luta pela Água, organizador do evento.

O dia do protesto foi escolhido como uma evocação do Dia Mundial da Água, comemorado no domingo, dia 22.

“A questão da água e do saneamento é um problema internacional. É importante reafirmar a água não como mercadoria, mas como direito humano fundamental, conforme o que a ONU declarou em 2010”, afirmou Silva.

Na sexta-feira, dia do protesto, mesmo debaixo de forte chuva, os níveis do reservatório da Cantareira, que abastecem principalmente as zonas norte e leste, ainda não haviam conseguido nem sequer repor o Volume Morto, que integra 29,2% da capacidade total de reservação.

Segundo os dados da própria Sabesp, no dia 20/3, a Cantareira atingiu apenas 16% do volume total. Isso significa que, apesar das chuvas, o reservatório ainda precisa encher mais 13,2% só para parar de usar o Volume Morto.

“É importante que a população faça parte desse debate, já que nós estamos na iminência de um colapso. Agora, estamos passando pelo período de chuva, mas o período de estiagem, que vem depois de abril, está chegando e nós nem sequer conseguimos recuperar o segundo volume morto do sistema Cantareira”, denunciou Renê Vicente dos Santos, presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente do estado São Paulo (Sintaema).

Santos também alertou para medidas que o governo estadual vem tomando e que pioram a situação. Ele criticou os ataques que os empregados da Sabesp estão sofrendo. “O governo do Estado de São Paulo, em busca de economias, para manter o lucro da empresa, resolveu demitir trabalhadores. Nós tivemos mais de 400 demissões de janeiro até agora. Eles negam, mas isso vai afetar diretamente o serviço prestado à população.”

Durante a marcha, foi lembrado que impacto da falta de água é maior sobre os mais pobres, principalmente por conta da redução na pressão do sistema, que interrompe o abastecimento nos bairros mais afastados.

“Não só a população da periferia está sofrendo, mas sobretudo ela. Passando por muita dificuldade. O Geraldo Alckmin escondeu a gravidade da crise no momento eleitoral, não tomando as medidas necessárias. Quando ela veio, no final do ano passado, pegou todo mundo de surpresa, cada um tentando se virar, mas sem nenhuma política pública”, defendeu Raimundo Bonfin, da Central de Movimentos Populares (CMP).

Sob chuva torrencial, a marcha partiu da praça Oswaldo Cruz e foi até a o prédio da Secretaria de Recursos Hídricos, na rua Bela Cintra. Lá, os manifestantes realizaram um “baldaço” e, depois, depositaram simbolicamente os recipientes vazios.

O secretário de Estado de Recursos Hídricos, Benedito Braga, aceitou receber uma comissão. Seis pessoas, representativas dos movimentos que compõe o Coletivo, foram para a reunião.

As entidades defendem cinco propostas. A primeira é que seja decretado estado de calamidade pública, o que permitiria “uma série de medidas de caráter emergencial”. Elas também reivindicam “que não haja aumento da tarifa de água e que sejam suspensos os contratos de demanda firme”, que privilegiam as grandes empresas, shopping centers e academias de ginástica com tarifas mais baratas e fornecimento garantido.

Visando a periferia, os componentes do Coletivo de Luta pela Água pedem que “o governo faça um programa estadual de cisternas e reservatórios coletivos”. Em quarto lugar, apontam para a necessidade “de um plano de emergência construído com a participação da população e que garanta o consumo humano, priorizando escolas, hospitais e outros serviços públicos”. Por último, querem “a declaração dos poços instalados em propriedades privadas e clubes, como de utilidade pública”.

Matéria originalmente publicada no portal Medium

Na mídia:

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