Por Fabrício Lobel
O saldo obtido pelo Cantareira no período tradicionalmente mais chuvoso do ano, que termina no final do mês, poderá se perder em 75 dias.
O cálculo considera a variação média do volume de água no sistema nos meses secos e o volume que o governo prevê retirar dele neste ano.
Em seis meses, o maior manancial da Grande São Paulo acumulou um "lucro" de 12 bilhões de litros.
O volume representa a diferença entre a quantidade disponível nas represas no início de outubro e a registrada neste sábado (28).
Em situação crítica, o Cantareira tem capacidade para armazenar 1,3 trilhão de litros, mas atualmente opera com 14,4% desse total.
Antes do início da crise, o sistema abastecia 9 milhões de pessoas. Agora, a clientela recuou para 5,6 milhões, já que parte foi socorrida por outros mananciais –o Alto Tietê e o Guarapiranga.
Mesmo com pouca água, a expectativa do governo Geraldo Alckmin (PSDB) é que o Cantareira consiga atravessar o período seco, de abril a setembro, sem a necessidade de implantar um rodízio para os moradores de sua área, em especial a zona norte de SP.
Período seco
O sistema nunca terminou a temporada de chuvas com um nível tão baixo.
"O próximo período seco deverá ser sofrível", disse Carlos Tucci, especialista em hidrologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Tradicionalmente, o período de outubro até março é o mais chuvoso no Estado. Houve vezes, como entre 2008 e 2009, em que o volume das represas do Cantareira aumentou 40% nesses seis meses –neste ano, o avanço será na casa dos 7%.
Foi há quatro anos que esse perfil começou a mudar –antes o manancial ganhava em média 163 bilhões de litros na temporada de chuva.
O período de 2013 e 2014 foi o que derrubou drasticamente o volume do Cantareira.
As chuvas não caíram sobre as represas, e o volume de água que entrava pelos rios despencou 85%. Com isso, o saldo daquele período chuvoso foi uma perda recorde de 263 bilhões de litros –o atual terá ganho de 12 bilhões.
Foi a partir dessa situação que o governo tucano iniciou uma corrida para evitar a adoção de um rodízio na Grande SP antes das eleições que reelegeriam Alckmin.
A ação mais dura, inicialmente não divulgada, foi um racionamento por meio da redução da pressão usada para empurrar a água pelos encanamentos. A medida seguirá em operação neste ano.
Ela trouxe economia de água, mas, ao mesmo tempo, deixou milhares de moradores com as torneiras secas, principalmente em bairros distantes e altos da cidade.
Para ultrapassar o período seco deste ano, o governo aposta também em obras que levarão água de outros mananciais a moradores que atualmente são abastecidos pelo sistema Cantareira.
Matéria originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo