Estatal paulista vai reivindicar aumento de tarifa superior ao autorizado por agência a partir de abril; Gastos com esgoto vão cair de R$ 1,9 bilhão para R$ 843 milhões com justificativa de priorizar oferta hídrica.
Por Fabrício Lobel
Em meio à crise hídrica e à deterioração de suas finanças, a Sabesp tentará reajustar a conta de água dos consumidores acima dos 13,8% autorizados pela agência reguladora e reduzirá drasticamente os investimentos com coleta e tratamento de esgoto.
As informações foram reveladas nesta terça (31) pela estatal ligada à gestão Geraldo Alckmin (PSDB), após a Arsesp (agência de saneamento) dar aval para elevar a tarifa dos clientes a partir do meio de abril, acima da inflação.
O reajuste autorizado, de 13,8%, é superior ao IPCA de 7,7% acumulado de um ano para cá e deve ser aplicado quatro meses depois do último aumento na conta –de 6,49%, em dezembro.
Mas a Sabesp já anunciou que pretende reivindicar à agência um reajuste maior. "Nossa visão é que esse aumento está aquém do que tínhamos calculado", disse Rui Affonso, diretor financeiro e de relações com investidores, durante teleconferência.
A iniciativa da estatal visa contornar a queda de arrecadação devido à crise hídrica. Com chuvas abaixo da média e criticada por não ter feito investimentos com antecedência para aumentar a oferta de água, a Sabesp adotou ações para evitar um rodízio e que tiveram impacto no caixa.
Entre elas, obras emergenciais, desconto na conta para quem baixou seu consumo e redução de pressão nas tubulações –que diminui a oferta de água enviada às casas e, com isso, também reduz a receita da estatal.
Lucro
Balanço divulgado na semana passada apontou queda de mais de 50% no lucro da Sabesp no ano passado.
Embora a última alta da tarifa tenha ocorrido em dezembro, na prática ela deveria ter sido aplicada antes, em abril de 2014 –mas acabou adiada para depois das eleições.
A estatal afirma que irá questionar a elevação de 13,8% na tarifa proposta pela Arsesp sob a alegação de que os altos custos de tratamento da água, a elevação do preço da energia elétrica e a queda no volume de água vendido pela empresa em meio à atual crise exigem reajuste maior.
O presidente da Sabesp, Jerson Kelman, alegou nesta terça, durante debate na Folha, que a tarifa da água em São Paulo é 25% inferior à de empresas do Paraná e de Minas.
Ele minimizou os impactos do aumento para a economia de uma casa, dando um exemplo de que uma alta de R$ 50 para R$ 60 –de 20%– não chega a ser significativa.
A desvalorização do real também complicou as finanças da Sabesp –em torno de 40% da dívida da estatal é em moeda estrangeira.
Para tentar melhorar sua situação financeira, a empresa diz que tenta receber dívidas de R$ 6,6 bilhões de municípios da Grande São Paulo.
Esgoto
Além de aumentar sua receita com a elevação da tarifa dos consumidores, a estatal vai diminuir em mais de metade seus investimentos em coleta e tratamento de esgoto.
Os gastos nesse setor, que foram de R$ 1,9 bilhão em 2014 e seriam de R$ 1,6 bilhão neste ano pela previsão original, foram cortados e se limitarão a R$ 843 milhões.
A justificativa é priorizar a expansão da oferta de água, cujos investimentos devem subir com as diversas obras já anunciadas –passando de R$ 1,3 bilhão, no ano passado, para R$ 1,5 bilhão, em 2015.
No Estado de São Paulo inteiro, 14% da população não têm rede de esgoto –com impactos na saúde pública e no ambiente, incluindo a recuperação dos mananciais.
"O que deveríamos fazer é investir em tratamento de esgoto para que essa água seja reutilizada e possa retornar para as nossas torneiras", diz Antonio Carlos Zuffo, professor de hidrologia da Unicamp.
Matéria originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo