A sacolinha verde chegou antes da coleta seletiva em 41% das residências da cidade de São Paulo.
Por Artur Rodrigues e Lígia Mesquita
Todos os dez distritos que não têm nenhuma coleta seletiva ficam na periferia da cidade. Do total de 96 distritos, 46 têm o serviço universalizado e 40 têm recolhimento parcial de recicláveis. (veja quadro abaixo).
"Eu achei péssimo [a instituição da regra da sacolinha], porque, para começar, deveria ter o caminhão da coleta seletiva", diz a aposentada Isabel da Silva, 57, moradora de Guaianases (zona leste), um dos distritos não atendidos. "Se tivesse opção, eu com certeza separaria o lixo."
Os moradores que não têm o serviço à disposição não serão multados caso usem as sacolas verdes para descartar o lixo orgânico -que, pela regra, deveria ser separado na sacola de cor cinza.
No entanto, a prefeitura indica à população que não tem acesso à coleta porta a porta que leve os materiais a um dos 1.800 pontos de entrega voluntária ou aos 80 ecopontos existentes na cidade.
Em alguns países, a população é responsável por levar seu lixo reciclável aos postos de descarte. Essa cultura, porém, ainda não pegou na capital paulista-nos ecopontos, por exemplo, apenas 6% do lixo recebido corresponde a materiais recicláveis. O percentual restante é composto por entulho e materiais volumosos.
A adesão é baixa mesmo entre quem tem a opção de reciclar. As centrais que recebem o material separado pela população teriam capacidade de processar o triplo do que fazem atualmente (250 toneladas por dia).
Entre os mais engajados no assunto, também há críticas ao serviço de reciclagem.
A ambientalista Claudia Visoni, 48, tem coleta seletiva na rua de sua casa, mas prefere levar uma vez por semana os resíduos secos para uma cooperativa de reciclagem. "Essa coleta por caminhões não tem triagem. Tudo é compactado e esmagado, grande parte do material não é aproveitado", diz.
Segundo a prefeitura, o percentual de aproveitamento do lixo que chega às centrais é de 60%.
Meta
A gestão do prefeito Fernando Haddad (PT) afirma ter praticamente dobrado o índice de lixo reciclado -passou de 1,68% para cerca de 3% após duas centrais mecanizadas passarem a funcionar. No ano que vem, a prefeitura pretende inaugurar mais duas, uma na Vila Maria, na zona norte, e outra em São Mateus, na zona leste.
A cidade permanece longe da atingir a meta de reciclar 10% do lixo até o fim do ano que vem -do total coletado, estima-se que mais que o triplo (35%) é resíduo seco passível de reciclagem.
A expectativa da gestão municipal é que as sacolinhas chamem a atenção da população para o tema. Conforme a coleta for ampliada, diz a prefeitura, a população será avisada sobre a chegada do serviço ao bairro.
Até o fim deste ano, o plano é que a coleta esteja universalizada em mais oito distritos da cidade.
Atualmente, os distritos com maior percentual de reciclagem de lixo são a Vila Mariana (6,74%), na zona sul da cidade, e Pinheiros (5,20%), na região oeste.
Matéria originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo