Realizado nesta quinta-feira (16/4), evento propôs a criação de um grupo de trabalho, a ser formado por integrantes do poder público, sociedade civil e empresas envolvidas com o tema.
Por Airton Goes, da Rede Nossa São Paulo
Os participantes do seminário Arborização Urbana no Município de São Paulo, realizado nesta quinta-feira (16/4), concordaram que a cidade necessita de um plano atualizado para cuidar melhor das árvores da cidade. Promovido pelo Grupo de Trabalho (GT) Meio Ambiente da Rede Nossa São Paulo, o encontro ocorreu no Anfiteatro da UNINOVE Vergueiro.
Com a participação de representes da Prefeitura, da sociedade civil, de empresas envolvidas com o tema e de especialistas, o evento tirou como encaminhamento constituir um grupo de trabalho destinado a desenvolver um plano municipal de arborização participativo e atualizado.
De acordo com o encaminhamento, o grupo de trabalho seria formado por representantes dos segmentos participantes do seminário mais representantes da Câmara Municipal de São Paulo.
“Não temos um plano municipal de arborização que envolva poder público, empresas e sociedade civil”, diagnosticou Maurício Broinizi, coordenador executivo da Rede Nossa São Paulo, logo no início do seminário.
Broinizi, que mediou o debate, considerou que a ampliação e o cuidado com a arborização irá trazer uma série de benefícios ambientais e sociais para a cidade.
Julia Cavalcante, do Instituto Saúde e Sustentabilidade, explicou aos participantes do evento a relação existente entre a quantidade de árvores e o clima. “Alguns distritos, como Belém, Barra Funda e Brás, por exemplo, têm temperaturas maiores [que outras regiões da cidade]”, informou ela, ao mostrar um mapa com as ilhas de calor na capital paulista. “As regiões com temperaturas menores estão próximas de parques e áreas verdes”, complementou.
Outro ponto abordado por Julia foi o efeito da falta de arborização para a saúde humana, citando os problemas respiratórios. “Esses problemas são sempre mais graves para idosos e crianças”, especificou.
Ela destacou a existência de estudos que comprovam a importância da arborização na retenção de materiais particulados e, consequentemente, na redução da poluição. “Para elaborar o Plano Municipal de Arborização, que está previsto no Plano Diretor Estratégico na cidade, temos que pensar em construir uma cidade para as pessoas”, defendeu.
Marília Fanucchi, do Grupo de Trabalho (GT) Meio Ambiente Rede Nossa São Paulo, reforçou os benefícios da arborização para o município, entre os quais a melhoria da qualidade do ar e a redução das ilhas de calor.
Segundo ela, a cidade necessita de um plano de arborização urbana, que contemple um novo modelo para a gestão das árvores. Marília citou o Largo da Batata, em Pinheiro, como modelo do que não deve ser feito. “Aquilo ali ficou um deserto da Batata”, ironizou ela, lembrando que aquele espaço público não possuir árvores.
Confira aqui a apresentação de Marília Fanucchi.
Joaquim Teotônio Cavalcanti Neto, da Sociedade Brasileira de Arborização Urbana, fez uma exposição técnica e, ao mesmo tempo, apaixonada das florestas urbanas. “As árvores estão em risco, a vida das pessoas está em risco”, pontuou.
Ele argumentou que é preciso conhecer as técnicas de poda das árvores e avaliou: “Não adianta plantar e deixar lá, tem que cuidar”. O especialista concluiu sua apresentação, argumentando: “Através das árvores estaremos humanizando a cidade”.
Veja a apresentação de Joaquim Teotônio Cavalcanti Neto.
O diretor de Operação e Manutenção da AES Eletropaulo, William Fernandes, garantiu que é possível a convivência entre rede elétrica e árvores. Porém, lembrou que a Prefeitura de São Paulo registrou a queda de 575 árvores no período de 29/12 /14 a 02/01/15, o que sobrecarregou a empresa.
Para ele é importante definir que tipo de arvore deve ser plantada e em que local. “Não podemos plantar uma árvore com copa alta perto da rede elétrica”, opinou.
Em relação ao enterramento da rede elétrica, Fernandes avaliou que a medida não deve ser tomada por causa das árvores. “Não existe nenhuma cidade do mundo que tenha 100% de sua rede elétrica enterrada”, declarou ele, antes de complementar: “Quando se enterra a rede é por algum motivo, em geral, por motivos climáticos”.
O diretor da AES Eletropaulo comunicou que está tramitando no Congresso Nacional um projeto de lei que regulamenta o enterramento da rede elétrica. Uma das questões a serem resolvidas, segundo ele, é quem irá pagar a conta.
Confira a apresentação do diretor da AES Eletropaulo.
Delson Lapa, superintendente de Meio Ambiente da Secretaria de Infraestrutura Urbana (SIURB), relatou que há dois grandes projetos em execução na cidade, que estão sob a responsabilidade da pasta: o de drenagem e o de mobilidade urbana. “Só com esses dois projetos, tenho a responsabilidade de compensar a cidade com a plantação de 40 mil mudas de árvores”, informou.
Ele avaliou, no entanto, que fazer a compensação ambiental como sempre foi feito seria um grande erro. “Quem faz a manutenção [depois] da árvore plantada?”, indagou.
Lapa reconheceu que até recentemente os projetos da SIURB tinham a preocupação exclusiva com a engenharia. “Não havia preocupação ambiental.”
A criação de uma superintendência de Meio Ambiente, em sua avaliação, demonstra a nova visão da secretaria.
O representante da Secretaria Municipal de Serviços, Antonio Storel, anunciou que a Prefeitura criou um Grupo de Arborização Urbana, que tem a responsabilidade de elaborar uma proposta de plano a ser apresentada à sociedade em 180 dias.
De acordo com ele, o desafio da secretaria é tratar dos resíduos. “Um dos tipos de resíduos é o de poda das árvores e das feiras livres, que hoje é encaminhado aos aterros sanitários.”
Storel, que é coordenador de Resíduos Orgânicos e integrante do Grupo de Arborização Urbana, registrou que a meta 92 do Programa de Metas prevê a compostagem dos resíduos sólidos orgânicos provenientes das 900 feiras livres e dos serviços de poda da cidade. “Fechamos o projeto técnico e vamos encaminhar o pedido de licença ambiental [para a compostagem desse material]”, informou.
Ele detalhou que a cidade de São Paulo produz atualmente cerca de 50 mil toneladas de resíduos de poda por ano.
Miguel Reis Afonso, secretário adjunto da Secretaria de Coordenação das Subprefeituras, argumentou a mudança climática tem provocado um aumento na quantidade de árvores que caem na cidade. “Se você olhar o número de árvores caídas, é uma coisa alarmante.” A média, segundo ele, é de 15 por dia.
O secretário adjunto defendeu a necessidade de atualizar a legislação nessa área, visando agilizar o trabalho de poda das subprefeituras. “Estamos trabalhando com uma legislação de 1987”, justificou. Ele antecipou que na próxima semana a Prefeitura publicará um novo decreto sobre o tema.
Na avaliação do secretário municipal do Verde e Meio Ambiente, Wanderley Meira do Nascimento, esse é um bom momento para discutir a cidade que os paulistanos desejam, e esse debate deve inclui um plano municipal de arborização.
Ele destacou que a cidade já concluiu parte do “inventário arbóreo”, registrando 670 mil árvores. “Precisa agora catalogar as espécies”, informou.
Nascimento detalhou que, anualmente, cerca de 16 mil árvores são removidas, cortadas ou caem na cidade. “Como vamos resolver isso?”, questionou, para em seguida propor: “Só de forma coletiva”.
O secretário defendeu a necessidade de uma Política Nacional de Arborização Urbana. “Os municípios precisam de um mínimo de diretrizes [para seguir]”, ponderou.